Kosovo, a Europa e outras coisas

Brevemente, a ONU fará a sua declaração sobre a independência do Kosovo. A vontade de uma pequena “etnia” tem hoje poder. A Sérvia, suportada pela Rússia não admite que o seu território seja cortado de uma “fatia” que é a raiz da sua própria nacionalidade. As minorias sérvios isoladas no Kosovo, rodeados de kosovares-albaneses passará a ser problema da União Europeia, cuja força de paz substituirá a da Nato, mandatada pela ONU.

Não sei qual será a decisão. Tenho alguma simpatia pelos independentistas mas sei, também que quase não há Estados-países que tenham uma população homogénea. É um bico-de-obra. Guerras continuam a existir. A injustiça e o erro fazem parte da humanidade. Por isso, há decisões difíceis.

Só um sistema tipo ONU mesmo no seu design pós 2ª guerra, lidando com os interesses dos Estados e das multinacionais e também das ONG, dos Media, da opinião transnacional é que pode decidir numa matéria destas.

Hoje o poder não são só, os Estados. Estamos simultaneamente a aprofundar as individualidades (produtos por medida, empresas unipessoais) a terminar com a massificação (das 9H às 5, escolas) com a comunicação global (Internet). Os sistemas políticos dificilmente acompanham a realidade, mas o essencial é determinar mecanismos de, por exemplo evitar que a duração do poder seja “eterno”.

Mas a Sérvia terá que aceitar, se a decisão da ONU for contrária à sua vontade, ficar sem a sua “identidade”, o Kosovo?

Aqui defendo eu a minha dama; aceitar e respeitar uma decisão, mesmo contrária aos nossos interesses, desde que seja obtida legitimamente, é tão difícil e improvável que verdadeiramente damos razão às minorias ou maiorias injustiçadas por essas más decisões. Engolir erros de outros não tem valor. Mas assim seria se as coisas corressem bem, e não correm. Por isso sempre houve guerras e revoluções. Para corrigir, sempre acreditaram os revolucionários, normalmente puros e idealistas de coragem, para melhorar, sonharam o mundo sem injustiça, onde todos viveriam em paz e sem necessidades.


É claro que a teia que a Humanidade vai tecendo, é nesse sentido. Aprender com o erro, ter o hábito de ter opinião, ser exigente, é um modo de vida que vai seleccionando, tanto as ideias, como aqueles que têm iniciativa, para resolver problemas, e é aquele que vinga hoje no Planeta, que detém o poder, e ainda bem. Os Estados Unidos em todos os aspectos e indiscutível no poder militar e o Ocidente são a parte maior do poder, mesmo na ONU e nas ONG. Aquilo a que chamam as Democracias liberais.

Claro que se o Ocidente perder o poder haverá sempre alguém para o agarrar. O que desejo (será realizável) é que defenda também a tolerância (que nem sempre é defendida no Ocidente) além dos aspectos mencionados, da liberdade de expressão, do mérito recompensado, e do poder rotativo.

A China e a Índia (vizinhas e desconfiadas) cada uma com inúmeros problemas, ganham, sem dúvida, poder. Nacionalismos e fundamentalismos, vários barris de pólvora aguardam faíscas. A União Europeia, de que Portugal faz parte, tem voz própria e quero que a mantenha. Para isso é necessário aprofundar a União, dizem os peritos (e eu acredito). Mesmo contra a vontade do povo? Só com referendo? Há países que são, a muitos títulos exemplares, como a Holanda, que não subscreve nenhuma espécie de “Novo” Tratado se houver necessidade “política” de referendo; assim mais uma vez, esta necessidade de negociar, de aceitar a “perda”, (pois a soberania vem da “vontade do povo”), ou rejeitar e “retroceder” pondo em risco a voz da Europa com os outros “actores”? Portanto, se tiver que ser sem referendo que seja sem referendo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não deve haver “interesses nacionais” que se sobreponham aos interesses dos cidadãos de uma nação. Não creio que construir uma Europa em que os cidadãos europeus não se revejam seja o melhor caminho para construir uma unidade politica, social, económica, cultural,… que seja capaz de enfrentar as outras potencias.