Universo misterioso

Gastou-se “uma barbaridade” de recursos (não só financeiros) no Large Hadron Collider (LHC) perto de Genebra. Terá sido um bom investimento, valerá a pena, quando, tanto há onde gastar um pouco e melhorar a vida a tantos?! Este mar de euros e dólares geridos pelo CERN deveriam ser aproveitados de outra e melhor forma?

A importância de saber realmente como se formou o Universo, e qual será o seu destino esteve sempre na imaginação dos humanos. Para a ciência de hoje, a teoria do Big Bang explica a partir dos instantes iniciais, a formação de toda a matéria e energia, a expansão do espaço-tempo, esta coisa estranhíssima de 4 dimensões.

Einstein sempre perseguiu o sonho de uma teoria Unificada (onde, de uma forma matematicamente simples derivavam todas as 4 forças da Natureza, electro-magnética, gravítica e outras interacções nucleares, forte e fraca) e nunca o atingiu. Sem aceitar a teoria quântica (que se desenvolvia formidavelmente), acreditava na causa-efeito da Natureza e não baseada em probabilidade e funções de onda.

Com as galáxias a afastarem-se cada vez com maiores velocidades, a dúvida sobre o final, Big Freeze (expansão eterna) ou Big Crunch (como um elástico) que após atingir o máximo, contrai-se e forma no final uma nova descontinuidade, e simultaneamente um novo Big Bang, a dúvida depende da quantidade de matéria que existe. E a única forma de a segunda e mais bela das possibilidades ser verdadeira é a matéria e energia negras…

As partículas elementares que todos conhecemos (protões, neutrões e electrões) nem sempre existiram. E na teoria actual são constituídos por grupos de 3 quarks (não o electrão, que é de outra família, os leptões, os outros com massa são bosões). Ora o que se passou entre a singularidade inicial (Big Bang) e a era Hadrónica (partículas com massa), ou seja os 10-43 s iniciais (1 dividido por 1seguido de 43 zeros do segundo), era um caos de partículas, espaço-tempo e espuma de mini buracos negros. É esta fracção de tempo infinitamente pequena que nem a relatividade generalizada nem a mecânica quântica consegue explicar, mas existiria a tal super-força elementar que unificava todas as diferentes forças da Natureza.

A Física de partículas com as teorias actuais de supergravidade, e supersimetria com dimensões muito para além da compreensão tornaram-se tão densas do ponto de vista matemático, que parece que o Universo se afasta cada vez mais da nossa experiência comum. No entanto, é estranho que simultaneamente com a maior dificuldade de visualizar e compreender, vá surgindo uma extraordinária harmonia profunda no Universo.

Essa unidade estende-se á própria vida. S. Hawking estudou o que poderia acontecer após o Big Crunch do Universo. Demonstrou que se houver esta oscilação e for criado um novo Universo as constantes fundamentais da Natureza (como a massa e carga do electrão, por exemplo) serão outras. Brandon Carter (U. Cambridge) desenvolveu esta ideia e chegou a resultados espantosos: a vida não poderia existir num Universo com outras constantes; basta uma ligeira mudança para que não pudessem haver estrelas gigantes e portanto não se formariam os átomos dos elementos. Ou não poderiam existir estrelas como o nosso sol! Quase que parece que estas constantes actuais foram “afinadas” para que exista vida. Aliás, José Rodrigues dos Santos, no seu romance “A Fórmula de Deus” destaca isso mesmo.

Ora os milhões e milhões que foram gastos (durante duas décadas) no LHC pretende descobrir o bosão de Higgs, previsto teoricamente como o elo de ligação entre os instantes iniciais e o aparecimento das partículas com massa. É um passo fundamental para a nossa compreensão do Universo e também da vida. A ciência quer saber o como; mas a religião pretende saber o porquê. Poderemos juntar estes dois campos da curiosidade humana e ter uma visão e compreensão do como e do porquê? Só por esta possibilidade vale a pena investir tanto, mesmo havendo tantas outras prioridades.