Somos assim...

Porque é que somos assim?

Facto: existem (muitos) portugueses que “dão cartas” em praticamente todas as áreas profissionais, culturais, tecnológicos e de inovação, ligadas às artes e às ciências; e de todo o tipo económico-comercial (até desportivo), quando integrados noutros contextos, fora de Portugal. Não são, em nada, inferiores, antes pelo contrário, aos outros. O mal não está nos portugueses, individualmente falando. Há demasiados portugueses, e sempre os houve desde Afonso Henriques, para o provar.

Já me envolvi em intermináveis argumentações sobre “os portugueses e Portugal”. Porquê que somos assim? Temos medo de existir como sociedade, de não assumir responsabilidades de peito aberto, da indignação mesquinha com as miudezas, das invejas e intrigas face ao sucesso do vizinho, da dissimulação, enfim, do passo atrás quando deveria ser dado um passo à frente.

O mal parece estar no nosso “formigueiro”, naquilo que os portugueses, em conjunto foram construído, ao longo da nossa História. O todo, simplesmente, não funciona.

Da mesma forma como não nos organizamos, escondendo-nos individualmente, sempre com o mesmo álibi: o Estado!
O Estado e as suas instituições (esquecendo que foram criadas por “nós”, pelos portugueses e por Portugal) são sempre o culpado de tudo. Não nos resta senão choramingar.

Embora o Estado funcione mal, paradoxalmente, acho que o problema somos nós, como indivíduos. Aceitemos então que o “organismo” que os portugueses teceram em comum, não vingou.

Somos assim devido a caprichos da História, opções mal tomadas, ao ritmo dos interesses de cada época e seus poderes (terrenos e divinos):
Somos assim devido à expulsão dos judeus e moldados pela nossa original criação dos cristãos-novos;
Somos assim, pois fomos pelo catolicismo face ao protestantismo, pela longa influência da Santa Inquisição “mais papista que o papa”;
Somos assim, a história deu-nos esta “alma-lusitana”. Com o definhar do Império, com as fratricidas guerras liberais e o lento agonizar da Monarquia, a terminar na salazarenta e pudica sociedade portuguesa, foi sempre sobressaindo o valor do ócio, do improviso que tanto nos orgulha e também do ódio às coisas novas, do vaidosismo saloio, e tudo o mais que todos conhecemos.

Somos assim, actuamos como o personagem que não queria mudar no “Quem mexeu no meu queijo?”. A alegre excitação do popular bota-abaixo é para os portugueses desporto nacional.

Aceita-se com naturalidade, que os problemas deveriam ser sempre resolvidos por “eles”. Eles, subentende-se obviamente, que “eles” são o governo, são os políticos, são os patrões, os juízes, os ricos, todos em geral, as autoridades, sobretudo, mas nunca ninguém em particular, e sobretudo nunca o próprio.

Mas temo que a solução passa mesmo por aí. Só pode. Só quando individualmente fizermos o correcto, aquilo que deve ser feito, todos pudermos contar com que todos o façam, fazer bem aquilo que deve ser bem feito, aí Portugal fará o “salto quântico” e seremos orgulhosos dele.

Em face dos problemas, de cada problema, deveria ser natural querer resolvê-lo. O que é que devo fazer, como contribuir para a sua resolução, a quem recorrer? O que é preciso para fazer bem feito, aquilo que deve ser bem feito? Quando todos, e cada um de nós, fizer aquilo que deve ser feito, é natural que o próprio processo transforme a sociedade portuguesa. Porque temos, hoje mais que nunca, os melhores instrumentos que a Humanidade foi capaz de produzir: a Democracia, quando vive no espírito dos cidadãos, permite a selecção das melhores ideias para preservar a liberdade e o bem estar, os Direitos e a Segurança, a Paz e o Desenvolvimento.

Depende, fundamentalmente dos indivíduos, de todos os indivíduos. E naturalmente faz-se à custa dos portugueses. De quem haveria de ser, senão à custa do trabalho e do sacrifício dos portugueses, de todos a remar para o mesmo lado, o lado de Portugal?

Acontece, por vezes, aparecer um politico, um estadista, que faz com que todo um povo acredite. Transformar um país e pô-lo de mangas arregaçadas e ao trabalho. Este carismático líder pode usar esse poder de “fazer acreditar” tanto para o mal como para o bem. Esse é o dilema. E só com uma sociedade forte, de cidadãos que acreditem nas suas próprias capacidades, em que cada um assuma a sua responsabilidade, e possa contar com que os outros façam o mesmo, é que podem surgir bons líderes (não falo apenas ao nível politico) que ajam como catalisadores de vontades. Porque o mais fácil, e sinistro, é que apareçam maus líderes, como a História se cansa de mostrar.

Em conclusão, somos assim, mas podemos ser de outra maneira. Só depende de nós. E a História não pára. Os nossos filhos e netos poderão continuar este triste fado de Portugal ou pertencerem a uma sociedade que seja tão boa como as melhores.

Uma questão de Liberdade e Direito, Estado e Igreja e Sociedade e Indivíduo


Qualquer pessoa tem o direito a ser feliz, ou pelo menos, não deve ser proibida de encontrar a felicidade individual. Amar alguém não é controlável e, quando o amor por alguém nos “cai em cima”, nada podemos fazer contra. Pelo contrário, só a sua mais completa expressão nos pode satisfazer. Já há muito tempo que essa união por amor ou, tantas vezes por razões familiares e sociais, mas mesmo assim, uma união que constitui uma família, geradora de continuidade, as futuras gerações, chamamos casamento. Mas não vou distinguir: união por amor / casamento.

A sociedade reconhecer o estatuto dessa união por amor / casamento publicamente, é dar dignidade e também o direito a ser tratado de forma correspondente a esse carácter “digno”, às pessoas que se uniram por amor / casaram.

Isto parece-me verdadeiro e razoável para qualquer pessoa adulta. Seja homem ou mulher, homossexual ou não, até (sacrilégio) para mais que 2 pessoas. Este direito de homossexuais se constituírem uma união por amor / casamento, assim entendido, deve ser defendido. Porque razão, se vai privar um homossexual da sua felicidade? Dizia-se que era doença. Ridículo. A homossexualidade sempre existiu, valorizado de diferentes formas em diferentes épocas e civilizações, mas combatido ferozmente e incansavelmente, sobretudo pela Igreja. Aliás, muitos foram os casos de casamentos, esses sim, contra-natura, de homossexuais em casamentos ditos normais (de hetero), que provocaram tantos desgostos e infelicidade. Não será isto um muito maior desperdiçar de felicidades?

Em resumo, sim à união por amor / casamento de pessoas do mesmo sexo. O que não significa que a sociedade (cabendo ao Estado a formalização) tenha o mesmo interesse nas uniões por amor / casamento de homossexuais ou de heterossexuais (ou de outros).

Por pura lógica, e procurando tomar as medidas ajustadas aos interesses de todos, o Estado preocupa-se com as projecções do decrescimento dos portugueses. É sua obrigação (nossa, da sociedade representada) zelar, de forma activa, para renovar gerações. De forma geral, deve dar mais incentivos às uniões por amor / casamento de casais heterossexuais do que às uniões por amor / casamento de homossexuais (pessoas do mesmo sexo)

Talvez alguns homossexuais já estejam indignados por esta “discriminação sexual”, pois têm a infeliz palavra-de-ordem, de chamar nomes feios a quem não concorda com eles. A Igreja, e os cristãos consideraram o casamento, um rito sagrado, abençoado por Deus, um sacramento (permanente). Está totalmente no seu direito de recusar reconhecer o casamento homossexual. Pela mesma ordem de ideias, absolutamente radical, de desaconselhar o preservativo. Mas a Igreja interessa aos cristãos, da mesma forma que o partido ou o clube interessam aos seus militantes ou sócios / membros. E mesmo quando pertencemos a um mesmo grupo de interesses, à mesma fé e iguais vontades, podemos discordar, não acatar. Pertence a cada um, concordar ou não, à sua liberdade individual.

O papel de criar filhos (que surgem das células dos pais e contêm os seus genes) não é um direito das uniões por amor / casamento de pessoas do mesmo sexo. Não advogo que seja proibido adoptar crianças (ou obtê-las recorrendo à biotecnologia genética) mas em igualdade de circunstâncias com um casal normal (homem e mulher) deve ser dado prioridade a este último.
E a razão é simples: pode ser que no futuro isto venha a ser alterado, mas hoje a criança tem o direito de ter um pai e uma mãe. Não há ninguém que os não tenha tido, e, atrevo-me a dizê-lo, não ter, ou não saber quem é, o pai ou a mãe é doloroso e angustiante para qualquer criança. O mesmo se verifica com qualquer cria que fica sem a progenitora no reino animal. Imagine-se os potenciais problemas que uma situação de ser adoptado por uma união por amor / casamento entre dois homens ou duas mulheres. Mesmo podendo correr bem, supondo que a sociedade (escola, opinião pública, relações sociais e profissionais) muda completamente na sua tolerância e compreensão, não acho que valha o risco para a felicidade dessa criança