A GLORIA DE UMA NACAO

Levanto-me. Rotina do costume: pequeno-almoco e Escola para a canalha e depois trabalho. Única diferença: é necessário adaptar a indumentária à longa e fria noite que me espera.

No trabalho a manha passa depressa. O corpo e a cabeça estão nitidamente dessincronizados: enquanto o primeiro tecla maquinalmente no computador a segunda sonha com os grandes feitos do clube e outras memoráveis noites Europeias.

14:00. Está na hora. Uma ganda peta ao chefe e aqui vai o vosso repórter juntar-se à Maré Vermelha.

Ponto de encontro: o Café Portugal. Tempo para uma mine e discutir as últimas. As camionetas já estão à espera. São três.

Entro e sento-me.

À minha frente uma moça interrompe o seu interlocutor: - Foda-se! Caralho! Não me digas que o Simão não joga mesmo!

Atrás de mim dois engravatados discutem as qualidades do novo Director-Geral da Cooperação que, ao que parece, entrou com cunha do Barroso.

Ao meu lado dois genuínos usam a sua sabedoria para dar a táctica para esta noite; - a equipa tem que ser como um cimento bem feito: forte e consistente para aguentar os embates mas com a fluidez necessária para que possa ser projectado! (ah! Koemann se os pudesses ouvir!)

No corredor passa um Irlandês que teima em acompanhar o Benfica. Já o conheço de outras viagens!

O meu companheiro de banco informa-me: integrado na comitiva vai um comissário da polícia Belga que pediu a uns colegas para escoltarem as camionetas até à saída de Bruxelas. Não há sinal vermelho que pare a Maré!

É isto a grandeza do Benfica! É isto a Nação Benfiquista!

Saímos de Bruxelas (de facto escoltados pela polícia!?) e a verdadeira jornada começa.

Nos altifalantes depressa as Pussycat Dolls dão lugar a temas mais apropriados:

Somos Benfica,
Somos Paixão,
Somos a Glória
A Voz mais alta de uma Nação!

Fico arrepiado…

Para entreter a viagem há mines e sandes de presunto: os organizadores são veteranos de outras campanhas, sabem o que é preciso para aguentar uma viagem de 4 horas!

De repente uma placa indica-nos: França. Pronto! Estamos em território inimigo. A partir de agora olhos abertos e ouvidos atentos… os piolhosos são capazes de tudo!

A camioneta galga os quilómetros sofregamente como que solidária com a ansiedade dos seus passageiros. Já não é o gasóleo que a move; são os sonhos e as esperanças desta gente; esperança de poder voltar a casa com o peito cheio de renovado orgulho em ser Benfiquista e Português!

Estamos quase!

Benfica! Glorioso! SLB! SLB! A animação cresce e chega ao rubro quando nos começamos a cruzar com outros adeptos Benfiquistas.

Chegámos! Quando saímos da camioneta o espectáculo é desconcertante! É uma verdadeira Maré Vermelha. E apesar de o Lille também usar o vermelho, não há confusão possível: Estes são Portugueses! Portugueses de todos os cantos da Europa!

Que pena que eu tenho de não ser poeta para poder cantar esta gente! É a Nacao Benfiquista, é a Glória de um povo que aqui está representada!

Quando entramos no estádio quase não consigo conter uma lágrima; isto já não é uma Maré… é um Tsunami que devorou o grandioso ‘Stade de France’. Os piolhosos nem querem acreditar no que lhes aconteceu.

No placard e nos altifalantes é anunciado: Vocês são 76.000; bateu-se o record de assistentes em jogos de equipas Francesas.

A multidão fica ao rubro! – Foi preciso o Benfica vir a França para que se conseguisse encher um estádio de 80.000 lugares.

O jogo começa! ………

Enfim, foi o que vocês viram!

No fim do jogo o sentimento é consensual: a viagem valeu pela oportunidade de ver este espectáculo único que, acredito sinceramente, nenhum outro clube do mundo seja capaz de proporcionar: por um dia Paris esteve aos nossos pés!

4 comentários:

Rantas disse...

Grande Harpic, excelente o relato da tua epopeia em tão má companhia.

Só fiquei com uma dúvida - achas mesmo que o Koeman não ouviu os tais genuínos ao teu lado?
"...a táctica para esta noite; - a equipa tem que ser como um cimento bem feito: forte e consistente para aguentar os embates ..."
Acho é que só ouviu a primeira parte...

manolo disse...

A experiência de ser um membro da tribo lampiona deve ser o contrário de ser "uma agulha no palheiro"; há tantos!! Repetir até à exaustão o número de 6 milhões (que parece ser já 14 milhões, contando os adeptos da Nova Guiné e Burkina Faso) dá ideia que esse é um grande mérito! Por mim, antes da multidão de adeptos, muitos outros factores fazem um clube grande. Mas os sentimentos não nos obedecem... Convém dizer que o jogo não foi pobre, foi paupérrimo. Agora com o Manchester tem que haver outro Benfica, talvez de outra Nação.

Anónimo disse...

Caro Manolo,

Dizer que há factores mais importantes do que número de adeptos para classificar um grande clube é, com o devido respeito, ver as coisas por um ângulo obtuso e demonstra, no mínimo, uma ganda dor de cotovelo!

Porque se o clube tem tantos adeptos não é com certeza pelas lindas cores das suas camisolas. É devido ao seu palmarés, à sua história, à imagem que ao longo dos anos conseguiu construir no seu país e no resto do mundo. E é precisamente por tudo isto que o Benfica tem tantos adeptos espalhados por todo o mundo.

Bem sei que a história recente não é condizente com a imagem que o mundo tem do Benfica, mas não é um mau período como o que actualmente atravessamos que pode macular esta imagem.

Por outro lado não chega ganhar um punhado de troféus para tornar um clube num grande clube. O Porto é um exemplo disso mesmo; apesar de ter nos últimos anos ganho uma porrada de coisas ainda não conseguiu ultrapassar a sua condição de clube regional. Posso assegurar-te que fora de Portugal só mesmo os adeptos de futebol mais empenhados é que conhecem o Porto. Para a grande maioria das pessoas a única equipa Portuguesa que lhes diz alguma coisa continua a ser o Benfica. E é isto que explica que o Benfica consiga por 45.000 adeptos num estádio fora de Portugal!

Quanto ao Sporting…bom!

El Ranys disse...

Sim, o Sporting é bom, a gente sabe.