O ABORTO


Entrámos em plena campanha do referendo do aborto.
Como esperava, cada dia que passa, o debate vai descendo de nível, e os argumentos passam do racional para o emocional.
Depois de todos defenderem um debate sério e elevado, na prática, a javardice começou.

Vem isto a propósito da última tirada de Marques Mendes quando disse que o combate ao flagelo do aborto não pode ser a legalização, tal como o tráfico de droga e a corrupção, apesar de serem crimes de combate difícil, não são resolvidos pela legalização! Comparar o aborto ao tráfico de droga e à corrupção é descer o debate ao nível mais rasteiro! Será que ele considera que a mulher que aborta é comparável a um traficante de droga? Será que não consegue fazer oposição doutra maneira? Será preciso tanta demagogia para se fazer ouvir? Não me parece que ganhe alguma coisa com estas tiradas perfeitamente idiotas...

Todos somos contra o aborto. Ninguém o defende. Aqueles que vão votar Sim sabem que seja legalizado ou não, o aborto continuará a fazer-se, e para que as vidas das mães não corram perigos evitáveis e que não sejam criminalizadas por uma opção terrível que tomaram, deve legalizar-se o aborto.
Os defensores do Não põem o valor da Vida Humana acima de todos os outros valores e não admitem o aborto em nenhuma circunstância (agora já o aceitam nos casos previstos pela actual lei).

Esta é a discussão que deve ser feita na campanha, mas infelizmente vamos no caminho da demagogia…
Já hoje o Bispo da Guarda considerou o aborto a pena capital!...
Esperemos que a campanha seja mais séria e elevada. Este nível de argumentação interessa a quem?

Saúdinha

3 comentários:

El Coelhone disse...

epá sobre o Marques Mendes impõe-se a piada: desceu o nivel até á sua(dele) altura :)
Agora a outro nível: também sou contra o aborto. Mas nem por isso que gostei de ver na missa do passado fim de semana o padre(como o fizeram todo os padres das redondezas) a ler um "comunicado" dos bispos a fazer campanha pelo não, não gotei porque não acho que a missa seja o local para fazer campanha, e como até sou amigo do padre (e apesar de colaborar e de ter algumas responsabilidades na Igreja) já lhe disse isso mesmo, para estas questões organizem-se debates ou sessões de esclarecimento.
Outro ponto de vista ainda:
há dias numa acção de formação de Ministros da Comunhão, falava-se da enciclica de Bento XVI, que fala sobre Caridade, pensei então que, se calhar, deixar passar esta lei pode ser um acto de caridade, para com aquelas mulheres que fazem o aborto em "clinicas de vão de escada" sabe-se lá em que condições e dos quais resultam as complicações que os adeptos do sim falam...
Isto é complicado, cada um de consciência deve ponderar o que votar ou o que dizer nesta campanha, mas já sabemos como são as campanhas, patos bravos e declarações infelizes há muitos e aparecem sempre.

Anónimo disse...

"Eu aborto, tu abortas, ela aborta, todas abortam".
FIXE!
ESQUECERAM-SE DE MIM, QUE NUNCA ABORTEI, NEM PASSEI PROCURAÇÃO A NINGUÉM PARA FALAR EM MEU NOME.

manolo disse...

Não tenho dúvida que às 10 semanas já estamos a falar de vida. (vida que ainda não tem consciência, bem entendido). Não é essa a questão que se põe no referendo. Não é isso que se pergunta: "Às 10 semanas de gestação, já existe vida?"; moralmente, permitir que o forte acabe com este ínicio de vida (o feto às 10 semanas) tem algo de cobardia, e os argumentos esgrimidos pelos “Não” são de uma forma geral valores importantes ética e moralmente falando. Ou seja não fazer abortos, deverá ser o objectivo final a alcançar. Mas a pergunta a que temos que responder é bastante mais directa: Para as mulheres que “querem” (têm necessidade) em abortar, a sociedade deve permitir que sejam feitas em condições dignas, sem as rotular de criminosas, ou pelo contrário, deve continuar a ser feito às escondidas, muito vezes em grande desespero, para que a sociedade tenha “a consciência” em paz. Penso que o sofrimento de quem aborta já é punição suficiente. O aborto é moralmente “mau” e deve ser combatido. Mas quando (certamente por razões ponderosas – já quase todos passaram por isso) se quer abortar, então, que diabo, que seja em condições humanas. Por isso voto “Sim”, e espero que o “Sim” vença.