Portugueses; a nossa identidade que temos que atacar

“Devagar, que tenho pressa” disse-me, uma vez o meu avô, há muitos anos. Engraçado que existe já uma cultura do slow. Imagine-se que há empresas que dão regalias com pequeno-almoço incluído e espreguiçadeiras. E são classificadas “A Melhor Empresa para Trabalhar”! Em Portugal o Clube das Sestas vai de vento em popa. È o futuro.

Qualquer pessoa a quem seja entregue responsabilidade e capacidade de decisão, lhe seja reconhecido o mérito e se consigam atingir resultados, parece poder agarrar essa possibilidade, mesmo com graus de exigência elevados. Mas a vontade individual faz a diferença. Participar, assumir, ter empenho, aceitar a evidência do “Quem mexeu no meu Queijo”, é a condição “sine qua non(!)” de ter um bom destino na História,

a civilização ocidental deu à humanidade o único sistema económico que funciona, uma tradição racionalista que por si só nos permite ter progresso material e tecnológico, a única estrutura politica que garante a liberdade do individuo, um sistema de ética e uma religião que trazem à tona o melhor da humanidade – e a prática de armas mais letal possível. Esperemos pelo menos poder entender esse legado. Tratando-se de uma herança pesada e algumas vezes ameaçador que não devemos negar nem da qual devemos sentir vergonha – devemos, isso sim, insistir para que a nossa maneira mortal de fazer a guerra sirva para fazer avançar, e não para enterrar, nossa civilização” (1)

Esta cultura, civilização ocidental sempre dependeu dos indivíduos, das pessoas. De repente lembrei-me de um livro antigo que li (e reli) onde um americano (Nobel da Física) dava aulas no Brasil e ficou embasbacado:

“Era uma espécie de competição em que ninguém sabe o que se passa e rebaixa os outros como se soubesse. Fingem todos que sabem e, se um aluno admite por um momento que alguma coisa o confunde, fazendo uma pergunta, os outros tomam uma atitude arrogante, fazendo de conta que não é nada confuso e dizendo-lhe que está a fazê-los perder tempo.
Expliquei como é útil trabalhar em conjunto, discutir as perguntas, debater o assunto, mas eles também não queriam fazer isso, porque estariam a desprestigiar-se se tivessem de perguntar a outra pessoa. Fazia pena! Pessoas inteligentes faziam todo o trabalho, mas tinham-se colocado naquele estranho estado de espírito, esta espécie esquisita de “educação” de autotransmissão, que não faz sentido absolutamente nenhum!”
(2)

A grande questão para nós é: os Portugueses, nós, somos piores que os outros? Fazer as coisa bem feitas, à primeira, sempre. Reconhecer o mérito é-nos difícil e fácil é contribuir para o problema, não para a sua solução. O pessimismo, a passividade, a inveja e o dizer mal são nossos? O Medo de existir…
Não resisto a transcrever da anciã História concisa:

Pertence à classe média fictícia, que vive como um cogumelo, à custa da verdadeira e que acabará por formar uma classe com características próprias: ociosa, pobretana, pedinchona de empregos, dependente dos grandes, servil em relação a quem quer que tenha o poder. De todo o País milhares de jovens afluem à corte. […] Das várias sátiras que ficaram desse tipo de aprendiz de fidalgo, nenhuma alude ao trabalho. Um clérigo que viera de Brabante onde o trabalho era a vida de toda a gente, surpreende-se com o que vê em Portugal e escreve: “Esta gente prefere ter de suportar tudo a ter de aprender algum oficio” […] A nova estrutura do Estado estava na origem da onda do parasitismo. Gil Vicente dava-se perfeitamente conta disso. A análise vicentina inclui muitos outros aspectos: a nobreza riquíssima e fútil a fazer pressão sobre o paço para que lhe suba as rendas já enormes, o clero que cobiça os bispados novos das ilhas, ..
Mais do que os pormenores, é a ideia geral que deve apreender, porque ela exprime as consequências sociais da economia da expansão: um Estado rico numa nação pobre, onde a riqueza vinda de fora quebrara a coluna vertebral do trabalho interno e provocava o crescimento de uma falsa classe média que nada fazia e que, como uma corcunda enorme, ia crescendo à custa do resto do corpo do País e atrofiando com o seu peso as classes produtivas que já quase se limitam aos camponeses.”
(3)

Vivemos a mudança. A globalização da selecção dos melhores e mais fortes. De cada um de nós depende agarrá-la ou não. E tudo parte do individuo. Por isso tanto depende da formação das pessoas. Que começa e é produto da família, escola, da sociedade … Tudo nós, portugueses! Ataco a nossa identidade como um desafio. Como Estado e nação, os portugueses estão a definir o seu futuro.

“Satisfação do dever cumprido”, definia o meu avô como prioridade primeira. Velha sabedoria.

Ler é uma bela preguiça. E motivo de conversa. E de dizer aquilo que se quer.

(1) “Porque o Ocidente venceu” de Victor Davis Hanson
(2) “Está a brincar Sr. Feynman!” de Richard P. Feynman
(3) “História concisa de Portugal”, de José Hermano Saraiva

1 comentário:

Alex disse...

Tens toda a razão Manolo. A forma de ser português é a que é. Mas faz-nos pensar como é que no Luxemburgo que tem o maior PIB per capita do mundo(!) tem uma percentagem brutal de portugueses (aliás como teve descrito num post do Harpic).
Mas como alteramos o nosso ser? Temos que carregar com a nossa História e lembra-te que entramos nas Democracias Ocidentais à relativamente pouco tempo. Mas é isso mesmo. A Globalização é o cenário onde se luta entre os conservadores (os anti mudança) e os progressistas (pela mudança).
E a mudança tem a ver com uma parte da liberdade que o "colectivismo" devolve ao "individualismo". É a liberdade de cada cidadão se responsabilizar pelo que a sua vida será. Não esperar que o Estado me dê. É querer e poder. É uma discussão que continua.