A vontade soberana da maioria

Os professores estão em luta. Greve de dois dias de protesto contra a revisão da carreira docente. Na escola os alunos perguntam qual a razão da greve, que é explicada com um exemplo; "imaginem que desta sala, de 25 alunos, o Ministério só autoriza que passem de ano, 10! É contra isto que fazemos greve". O dirigente sindical, no horário nobre na televisão explica aos jornalistas o "crime" do governo: " querem poupar na despesa pública à custa dos professores". Em entrevista ao telejornal, o líder da CGTP afirma: "o governo tem de governar para os cidadãos; e esta manifestação de 70 000 pessoas demonstra que o país não está de acordo com o governo".
Acho que as uniões de trabalhadores e o direito à greve é um direito fundamental dos trabalhadores. A má utilização destes direitos fá-los perder a credibilidade. Sobre a revisão da carreira docente as grandes alterações são a implementação, espera-se que séria da avaliação e a criação de 2 categorias: professores e professores titulares. Só se pode ser promovido a professor titular quando houver vagas; perfeitamente normal, ou não? O mesmo se passa em todas as profissões (por exemplo, nem todos podem ser generais, depende também das vagas).
Todos se aperceberam que o País tem um problema grave pois gasta mais do que recebe; temos um compromisso com a União Europeia relativemente a isto; a única forma é aumentar receitas e diminuir despesas; aumentar impostos é mau para o crescimento da economia, sendo assim resta a diminuição da despesa. E a despesa pública é sobretudo custos de pessoal: saúde, educação, forças armadas, tribunais. Assim sendo, qual é o espanto de "cortar despesa à custa dos professores" tal como do restante da Administração Pública?
Nas últimas eleições o PS obteve o voto da maioria dos portugueses para governar. Está a promover reformas necessárias, inadiáveis e que, normalmente põem em causa direitos de várias minorias, que naturalmente protestam. A realidade é que, conforme várias sondagens têm demonstrado, a maioria do eleitorado continua a concordar com estas reformas. Fazer uma manifestação (grandiosa, é verdade) não substitui as eleições, nem deve limitar a actuação do Governo, como parecem acreditar os sindicalistas. Sabemos que há diversas minorias que têm acesso desproporcional (ao seu peso relativo) aos órgãos de informação e correm o risco de acreditar que as suas palavras de ordem e gritos de "abaixo este e morra aquele" representam a vontade soberana da maioria, vulgo a Democracia. Não representam, pelo contrário, defendem interesses privados de minorias contra o interesse geral do País. Assumem ser a classe dirigente que guia o povo.
Valha-nos o "grande centrão", contra estes totalitarismos. Um governo com maioria absoluta apostado em fazer aquilo que todos percebem que é absolutamente necessário, um Presidente que não é força de bloqueio, são estes e não outros, que representam a soberania, a vontade da maioria.

3 comentários:

Rantas disse...

100% de acordo.
Eu não estive na manif. dos 70.000 - estive com os 9.930.000 que não estiveram lá, a propósito.
Eu apoio este Governo. Há coisas que estão mal, impostos que são muito elevados, injustiças flagrantes, assuntos em que um ministro ou outro poderiam fazer melhor. Ou seja, não vivemos num Paraíso nem numa Utopia, vivemos em sociedade, com direitos e deveres mútuos. Os direitos adquiridos por uns agravam os deveres de todos e são excessivos, quando comparados com os direitos da restante população. Em todas as actividades humanas organizadas com uma certa dose de racionalidade, existe uma hierarquização - preferencialmente por mérito, por vezes apenas por antiguidade - e não se vislumbra porque é que os funcionários públicos, ou os professores, deveriam continuar a ser uma excepção.
Com estes combates, acredito que o apoio ao impulso reformador do Governo saia reforçado e que se alargue o fosso entre a população em geral e as classes que lutam corporativamente, para defender direitos que os restantes não entendem e não julgam sequer que façam sentido

El Ranys disse...

Concordo com o teor do post.
Acho, no entanto, que apesar de as reformas irem no bom sentido, são ainda extremamente tímidas.
O PRACE foi adiado, o problema do financiamento da Segurança Social também (apesar das medidas tomadas), a despesa não está a baixar, pelo contrário...
Sócrates vai na boa direcção, mas não está a ir ao osso.

Alex disse...

A promoção de professor a professor titular acontece quando:
A avaliação é boa, o professor presta uma prova e existem vagas. Como se pode atacar o conceito? O que se ataca são a perda de benefícios. Naturalmente. Ninguém gosta de ganhar menos e de trabalhar mais!
Mas o governo tem que governar. E para promovermos os melhores temos que, de facto, de filtrar! E se o Estado precisa de diminuir despesa só pode diminuir onde a tem. Que é nos funcionários públicos, fundamentalmente.
Não há outra maneira!
Saúdinha