Tertúlia no Merdex

Gerou-se viva polémica na redacção do Merdex. No blog do Merdex e para o Merdex, (quase completo), o cisma veio a propósito de “bem-comum”, como tarefa fundamental do Estado, afirmado por Alex, definindo-a “como a ideia de que o bem colectivo se deve sobrepor aos interesses particulares”. Logo contrapôs Harpic, dando ênfase às liberdades individuais.. A barreira profunda agudava-se, com Harpic a replicar, “não se pode ao mesmo tempo estar a defender o bem comum e a deixar a cada um a liberdade de escolha”, “Isto não colide com a liberdade individual”, responde rápido Alex. A discussão subiu de tom, com el ranys, no seu estilo piscou o olho a Alex “sucata ideológica" ;-)
Procuramos, o nosso "bem individual”, intervém el ranys, visitante habitual do correspondente RdM, pondo-se ao lado de Harpic que o havia aliciado. “O que não existe, seguramente, é esse tal "bem comum", rematou fulminante
. Tentando concentrar-se Harpic tentou precisar o seu argumento, “pressupõe necessariamente o abandono desta noção do “comum”; ao indivíduo passa a ser dada a liberdade de escolha para garantir o seu próprio bem; enquanto que ao Estado é dado o papel de garantir as liberdades positivas de cada individuo na exacta medida das suas necessidades.”. Afinal, concordas que “Estado não pode garantir a mesma coisa a todos”- questiona Alex, “O Estado garante menos, apenas aos que necessitam, e os cidadãos têm mais espaço para as suas decisões”, acrescentalex, ripostando el Ranys inabalável: “O que não existe, seguramente, é esse tal "bem comum". Manolo tenta dizer, “ O papel do Estado Democrático é o de conciliar a liberdade individual, a ambição individual do bem-estar com uma solidariedade aceite e consentida, (que pode ser entendido como "bem comum").

Nisto, professoral, Alex (“Detesto citações, sobretudo quando utilizadas como argumento de autoridade”, comentaria, mais tarde um aborrecido el Ranys) afirmava categórico : “A ideia de bem comum já vem de Aristóteles” e citava, “a política é o desdobramento natural da ética”. Continua embalado Alex, “Mas a liberdade individual não é antagónica do bem comum”…,
“NÃO HÁ "bem comum” grita el Ranys, embora “ espero que os governos governem para todos”. Harpic parecia pensativo e balbuciava… “unidade supra-individuo”, mas Alex não perdia oportunidade e, dirigindo-se a el Ranys: “estás a dizer o que eu disse”. “Qual o sentido da mudança, essa é a discussão que tentamos fazer” apelou Alex, conciliador, depois de uma pausa. “E concordo que esta dicotomia é hoje mais interessante de discutir do que a primeira” – Harpic referindo-se a um aparte de Manolo, e também “Concordo que é mais interessante discutir os sectores em que o Estado deve intervir”, embora o Estado, “vai mais tarde ou mais cedo ter de contrariar os interesses individuais” disse, calado quase, Harpic.
“Eu não defendo a intervenção do Estado, pelo bem comum!” confundiu de novo Alex. “Mau, entao?”, riu-se Harpic; “O que, para mim, faz sentido é defender isto tudo”, respondeu Alex, que já pensava na próxima tertúlia no RdJ, em que era aliado de Harpic que cínico, se dirigiu a todos: “Eu não ando à procura de contradições”. Já no corredor el Ranys falava com os seus botões “Isto se ainda existem esquerda e direita”. Qual o modelo de sociedade? Esta questão era interminável. “Concordo - nessa perspectiva, o socialismo morreu”, ouviu-se de repente Rantas, como sempre atradaso a responder directamente a Alex. E saíram. A redacção ficou deserta. Deserta, não. Pairava o fantasma de Antonix, ícone antigo do Merdex.

21 comentários:

Rantas disse...

Como sempre atrasado?!
Ora essa!

Rantas disse...

Então e o Obelix, o que é feito dele?

Alex disse...

Post genial. Parabéns.
Saúdinha

Alex disse...

A redacção do Merdex sempre gostou muito de argumentar. E ainda bem!
Saúdinha

Rantas disse...

Pior ainda (e agora sim, estou atrasado...) - fui ver e fui o primeiro a comentar nesse post!

Anónimo disse...

Grande Manolo. Um post digno dos pregaminhos do Merdex.

El Ranys disse...

Rantas, estou contigo: parece-me que os elementos externos à "redacção" são alvo, neste post, de um tratamento enviesado que resulta de tresleitura.
Reduzir a minha participação a um constante "não há bem comum, não há bem comum", sugerir que fui aliciado pelo Harpic, dizer que pisquei o olho ao Alex e que, no fim, me deixaram a falar com os meus botões nos corredores é tratamento de polé.
Manolo, estiveste mal. Decreto black-out temporário aos comentários no Merdex e bloquearei qualquer tentativa de nova linquagem deste blogue no RdM. A ver se aprendes a ser mais fiel à verdade. Quem se mete connosco, leva.
E, já agora, Alex, nunca estivemos a dizer a mesma coisa na discussão.

manolo disse...

Rantas, exactamente por teres o primeiro comentário e nunca mais participares, decidi terminar dessa forma. El Ranys, os black-outs nunca resolveram nada. o ser fiel à verdade... não me parece ter afastado muito, mas a opinião é livre. O estilo "trauliteiro" - "Quem se mete connosco, leva", é uma terna ameaça. Felicidades.

Anónimo disse...

Ranys

O post do Manolo valeu sobretudo pelo aspecto humuristico; e dai eu ter dito que era digno dos tempos aureos do Merdex quando a linha editorial era essencialmente baseada no "nonsense".

Quanto ao resto parece-me obvio que o post desvirtua a essencia da discussao, nem que seja pelo facto de alterar a ordem com que os argumentos foram apresentados.

Quanto ao ser fiel à verdade caro Manolo na minha opiniao esta longe de o ser. Para mim o que ficou foi que voces andaram às voltas (num "discurso redondinho" para citar, sem pretensoes de aliciamento, o Ranys) a tentar justiifcar a confusao que vos vai na alma entre intervencçao do estado, bem comum e liberdades individuais (isto chegamos ao ponto de ouvir coisas como o estado nao deve intervir porque isso é o melhor para o bem comum...).

No entanto, caro Ranys, (e ja que o outro citou Aristoteles) eu obrigo-me aqui a seguir o espirito Volteiriano: posso nao concordar com o que eles dizem, mas estou disposto a sacrificar a minha vida para o defender! Afinal o Merdex e os valores que sempre defendeu (Freaks de todos os paises, uni-vos) esta acima de tudo;

manolo disse...

Quis a brincar, dar conta do gosto de argumentar, de dar opinião, de expor pensamentos que é tão peculiar deste blog, pouco, mas bem frequentado. Livre-pensadores, sujeitos à Razão e ao contraditório, que sempre se praticou no Merdex, espelha de certa forma, a herança mais forte e antiga da cultura ocidental.
Claro que, desvirtuei (embora não a essência) da polémica. Cariturei a atitude do "por principio, não concordo" e também os entendimentos admitidos.

Relativamente à vaca fria, o bem-comum e a liberdade individual, eu não fiz praticamente comentários. Quando me chamaste esquerdista é que fui reler e não percebi a razão. O cisma é que o Alex diz que a ideia de esquerda é o bem comum se sobrepôr aos interesses particulares, e Harpic acha incompatível querer o bem comum e manter liberdade. Concluo que não te revês na esquerda proposta pelo Alex? O Alex completou para a ideia de esquerda propôs também uma distribuição desigual, pelo Estado; a cada um conforme as necessidades, Harpic vê estas duas ideias como contraditórias e simultaneamente impossíveis.

O papel do Estado numa sociedade que eu ache perfeita seria obviamente conciliar as duas coisas: liberdade e solidariedade, aceitando a necessidade de crescimento económico. Da tese Socialismo morreu, logo esquerda actual igual a duas condições o meu posicionamento é que o objectivo será as duas condições devem ser conciliáveis e Harpic acha que não é possível, e só a segunda se deve atingir, até porque a 1ª põe em causa a segunda. Não faço a distinção entre isto ser Esquerda e Direita. Tão pouco ambos. O “bem-comum” é construído pelas liberdades dos indivíduos que consentem e aceitam em dar ao Estado autoridade e legitimidade para que ele lhes restrinja certas liberdades. Claro que há excessos cometidos pelos Estados contra a liberdade, e é esta a luta (conciliar os dois factores) das sociedades.
Claramente um poder autoritário, chamando-o ditatorial, pode também procurar “o bem comum” mas este não foi aceite / consentido pelos indivíduos. Neste caso não existe conciliação.
El Ranys acusa-me de o pintar intolerante. Há que admiti-lo, e também que se proporcionava bem. Afirmas que, como o bem comum é diferente para os vários indivíduos, só existe o bem individual. Tens razão em afirmar que é a mola real da procura pelos indivíduos do bem comum, discordo é do teu grito da não-existência, pois dás ao Estado o papel de regulador, ou seja, na minha humilde interpretação, o Estado concilia, limitando as liberdades individuais, as questões que são comuns, por vontade e consentimento dos indivíduos. Quando assim não é, dá ditadura e abusos. Parece-me que também vês este papel do Estado, mas receias que esse Estado vá ele procurar esse “bem individual”, substituindo-se a cada um de nós, portanto sem o consentimento individual. E esta é para ti o sinal da Esquerda.

A questão para mim, não é discutir o que é Esquerda, mas qual o papel do Estado / Governo na nossa sociedade/civilização. E é um dos temas que sempre foi discutido aqui, nesta tertúlia.

El Ranys disse...

Pelo menos, relançou-se um debate inacabado.
Também gostei do estilo humorístico do texto e já agora, sempre vos digo que o meu comentário também era para ser entendido nesse espírito. Ou acreditam mesmo que vá "bloquear" links ao merdex no RdM e que faça blackout aos comentários?
Aqui está a prova, se necessária fosse, de que não é assim. Portanto, é bom que não se façam leituras estritas e literais do que vai sendo dito.
Mas tinha de comentar desta forma o post, manolo, para que ninguém, influenciado pela leitura do teu texto, ficasse com a ideia errada de que o debate foi mesmo como tu narras. Não foi.

Bom, avancemos, mais uma vez concordo com o Harpic (como não concordar?): existe alguma confusão nas vossas mentes. Nós estamos dispostos a abdicar de uma parcela da nossa liberdade para que ela seja regulada pelo Estado, mas creio que o fazemos só na medida do nosso "bem individual". A natureza dessa cedência é egoísta, e nada tem a ver com "bem comum". Portanto, do meu ponto de vista, a actividade do Estado também nada tem a ver com a procura do "bem comum". Tem a ver com a concilação da multidão de "bem individual" de milhões de pessoas. Vocês continuam a insistir num qualquer papel do Estado como garante do "bem comum", e é isso que nos separa em toda esta discussão. Mas creio que já está mais do que claro que tal nos continuará a dividir. Por isso, vocês estão mais à esquerda e eu e o Alex estaremos mais à direita. Não queres discutir isso, dize. Mas é mesmo isso que estás a discutir desde o princípio.

El Ranys disse...

Eu e o Harpic, não o Alex, naturalmente...

Rantas disse...

Tudo isso são lérias.
O que é o "bem comum"? Não será a "conciliação da multidão de bem individual de milhões de pessoas"?

A tese do Alex, de que o Estado deve assegurar o "bem comum", mesmo que o "bem comum" implique que o Estado não intervenha, faz todo o sentido, tanto à esuqerda como à direita, e não comporta em si nenhuma contradição de termos.

Tenho de postar, um dia destes, a "teoria do autocarro" do João César das Neves!

El Ranys disse...

Sim, sim. Então, se o Estado não intervém, para quê o Estado? Que Estado é esse? Ainda por cima, fazes-te acompanhar do João César das Neves. Olhe que não, shôtor, olhe que não.

manolo disse...

A coisa pública, os impostos que pagamos, as leis a que nos temos que submeter, as expropriações para estradas, recolher obrigatório, reformas de velhice, e n outros exemplos, constituem casos que, em face ao "bem-comum", se limitam liberdades individuais. Quem tem por dever e obrigação pensar e decidir para o "todo" (falo no Estado / Governo), tenha heranças históricas de esquerda ou de direita, vai conciliar este "bem comum" (que vem desde os Gregos e Romanos) com as liberdades individuais. O que é necessário introduzir, na minha opinião, é que o Estado deve resultar da vontade dos individuos, ou seja, é a liberdade individual que quer que exista o bem-comum. Quando assim não é, como muito bem receia o el ranys, trata-se de uma ditadura.
A minha divergência (e do Alex), com Harpic, é que ele não acredita que esta conciliação seja possivel. Acho que é uma posição extremista. O que são as Democracias ocidentais, senão a transmissão regular do poder de, em nome do bem-comum (muitas vezes confundido com bem do Estado e não com o bem do individuo), do poder dizia, de restringir liberdades? Por isso o objectivo do "Estado Democrático é o de conciliar a liberdade individual, a ambição individual do bem-estar com uma solidariedade aceite e consentida." repito. Mas penso que também a chamada direita sobrepõe interesses gerais ao interesses individuais e isso é indiscutivel. O 2º aspecto que Alex refere ser identificativo da chamada esquerda (não-socialista), a colecta e a redistribuição são conforme as posses e as necessidades. Também essa ideia é aplicada pela chamada direita.
No fundo esta polémica só se gerou porque as pessoas sentem necessidade de ser "de esquerda" ou de "direita". Vamos ultrapassar isso?

Alex disse...

Folgo em ver que a reacção do Ranys foi apenas uma cena de faca e alguidar. Eu acho que este post está excelente pois faz humor com as nossas discussões sempre tão "profundas". Evidentemente que o Manolo, que participou pouco na discussão terá esta visão.
No que me toca, digo sinceramente que a discussão em torno do bem comum, embora possa ser interessante, não era o tema do post. Após o post da Desigualdade, que para minha surpresa foi, nas suas linhas gerais consensual entre os habituais visitantes deste post, quis reflectir que a visão da sociedade de hoje cortou com a ideia socialista, de igualdade, de um Estado paternalista e de universalidade acabou. Já não é isso que procuramos (quem alguma vez procurou). E sobre isso só o Rantas respondeu. E aliás uma ideia que considero importante, não foi discutida, apenas o Manolo se referiu a ela. É que defendo que a tal da mudança será no sentido do Estado garantir menos aos cidadãos, e além disso não dar prestações iguais a todos, mas apenas àqueles que necessitam. Isto quer dizer que eu posso pagar mais impostos que outro, por ter mais rendimento e ter menos acesso aos beneficios públicos. Concordam com isto?
Eu vou continuar com estes posts e espero que continuemos todos a debater estes assuntos.
saúdinha

Rantas disse...

Independentemente de concordar ou não com isso, a verdade é que eu pago (bastante) mais impostos que outros - por ter (bastante) mais rendimentos - e tenho substancialmente menos acesso aos benefícios públicos:
Por opção minha, raramente utilizo o SNS, vou a médicos privados; meti o puto num colégio privado e não na escola pública; só recebi da Segurança Social quando estive de licença de paternidade, mas pago (religiosamente) 11% dos meus rendimentos todos os meses; nunca precisei de utilizar os serviços da Justiça; raramente me vi obrigado a entrar numa esquadra da polícia para fazer uma queixa.

Isto que se passa comigo passa-se, com mais ou menos pormenores, convosco também, como é óbvio.

Podemos por isso pensar que somos todos solidários. Não necessariamente. Pagamos e não temos hipóteses de não pagar. Sinceramente, a mim não me incomoda tanto assim pagar esses impostos tão elevados (enfim, ESSES impostos, porque há outros, com o IMT à cabeça, que me enfurecem!). O que me incomoda, verdadeiramente e cada vez mais, é verificar a forma negligente, ineficiente, incompetente e pouco inteligente (hoje estou para as rimas!) com que os dinheiros públicos são gastos. Tenho cada vez menos saco para os subsidio-dependentes, para os chulos, para os jobs for the boys, para as contratações que apenas servem para, a prazo, pagar indemnizações. A propósito disto, leia-se o maradona (hoje, antes que ele apague o post!) e o herdeiro de aecio, sobre um "artista". É esse espírito chupista, impenitente e arrogante que me faz interrogar sobre o rumo dado ao meu dinheiro, que pago sob a forma de impostos.

manolo disse...

Não resisto a transcrever uma frase de Bill Clinton, a propósito de uma organização por ele criada, a CGI (Clinton Global Iniciative):
"os cidadãos privados nunca tiveram tanto poder para fazer avançar o bem comum."
Comentários?

Anónimo disse...

O Bill Clinton tambem disse que nunca tinha anadado às cambalhotas com a M.Lewinsky e depois foi o que se viu...

Tava a reinar...

Se tu queres definir como bem comum a soma dos bens individuais de cada individuo, estou perfeitamente de acordo com a afirmaçao.

Caro Manolo, aqui fala-se da acçao dos cidadaos privados e nao na intervençao do Estado!

Anónimo disse...

Eh pa! Acho que o A.Vitorino anda a ler o Merdex!

Acabei de o ouvir dizer que a discussao entre a questao da equidade e das desigualdades é um debate essencial para as nossas sociedades.

Se bem percebi a sua argumentaçao, a melhor maneira de combater as desigualdades é precisamente dar liberdade às pessoas para que possam optar por soluçoes diferentes e nao tentar procurar soluçoes que estejam orientadas para qualquer tipo de universalidade.

Alex disse...

É verdade. Fiquei boquiaberto quando ouvi o Vitorino falar em diferenciação dos beneficios sociais. E disse que é a grande alteração a fazer no Estado Social!
É isso Vitorino.