O Bem e o Mal em dez pontos

  1. Acredito que o objectivo das Nações Unidas é estabelecer regras na relação de interesses, harmonizar conflitos e garantir direitos a indivíduos e a Estados. Os ideais do século XX culminaram com a supremacia do Direito Internacional, que pretende substituir a sucessão de guerras que tem sido a História da Humanidade. A discussão entre o direito de Ingerência (mesmo recorrendo à força) das ONU, para salvaguardar os seus objectivos é o cerne da questão.
  2. A invasão do Iraque em 2003, decidido sem o apoio da ONU foi um erro. E o erro foi duplo: por um lado a França (também a Rússia) declarou vetar a intervenção militar, independentemente do Relatório Blix; por outro lado os USA, quiseram convencer o mundo, da presença de armas proibidas e da ligação do regime iraquiano ao terrorismo, quando não tinham necessidade disso, pois bastava a R1441.
  3. Mais grave, a Administração Bush foi responsável por forjar evidências (queimando Colin Powell) na ânsia de actuar contra o Iraque, e percebendo que não obteria o apoio do Conselho de Segurança. Procedimento condenável, e que desencadeou significativa hostilidade, que se tem vindo a agravar, após o péssimo pós-guerra. Nos Estados Unidos o sistema democrático está a funcionar: a opinião pública, os tribunais e os órgãos políticos exigem responsabilidades.
  4. É verdade que associado à invasão do Iraque, estiveram interesses económicos; desde logo o controlo do recurso fundamental (para todos nós), o petróleo, e também a indústria do armamento lucrou com a invasão. Embora estes factores estivessem presentes na decisão, estou convencido que foram secundários, face à vontade firme de derrubar o regime de Saddam, que, sem sombra de dúvida, tornava o seu Estado “persona non-grata” na Comunidade Internacional nos últimos 10 anos.
  5. Comungo do ideal da “exportação” da Democracia tornando soberana a vontade da maioria (p.e. Timor) e gostava de ver a ONU a assumir a defesa dos Direitos Humanos, mesmo se para isso tenham que recorrer à força, obrigando Estados “criminosos” a responder perante o Direito Internacional. É notório que há diversos países nestas condições (p.e. Coreia do Norte); e outros há, que são protegidos pela potência dominante, por exemplo Arábia Saudita ou Paquistão.
  6. O que não aceito é a argumentação que impede qualquer acção contra um Estado "fora-dalei" porque não se actua em todos. A Comunidade Internacional tem dado sinais, que a tolerância para os países que não respeitam a Liberdade, os Direitos Humanos, os Valores Fundamentais se vai esgotando. Neste sentido, quem continua a representar a minha visão e ideologia, continua a ser o Ocidente, os Estados Unidos, e a Europa múltipla. China e Rússia defendem sobretudo os seus interesses e não têm grandes preocupações acerca destes valores.
  7. O que se passa actualmente no Iraque, com ataques terroristas diários, milhares de mortos, assassinados por motivos de diferenças religiosas, dentro do Islamismo, tal como as guerrilhas mortíferas entre Fatah e Hamas, em Gaza e Cisjordânia, ou a crise das caricaturas, a reacção ao discurso do Papa, etc, etc, não são causadas pela guerra do Iraque ou pela invasão do Líbano por Israel, embora sejam pretextos usados por lideranças populistas e extremistas muçulmanas. O mesmo se passou na Cristandade há 400 anos!
  8. A Guerra das Civilizações declarada ostensivamente em 11 Setembro de 2001 por radicais islâmicos, só será de facto uma guerra de Civilizações se a maioria dos povos muçulmanos assim o quiser. Da parte atacada, o Ocidente, não é assim encarada. Já foi dito diversas vezes, que usar o factor religioso é uma forma de enganar e manipular as deprimidas massas islâmicas, “prometendo” os tempos áureos do Califado, em troca da destruição (moral, religiosa, física) do grande culpado: o Ocidente.
  9. A separação daquilo que é do foro individual e espiritual daquilo que são as regras do viver em sociedade é um pré-requisito: a Igreja e o Estado têm esferas de acção independentes. Depende sobretudo dos muçulmanos: haverá convicção e força enraizada o suficiente no mundo islâmico para aceitar sobrepor a Razão à Crença?
  10. O apelo vai para a Turquia, em que a Europa pode assumir um papel essencial (e favorável aos nossos interesses a prazo), para o Egipto, e, naturalmente para os iraquianos. Digo, com toda a convicção, humildade e honestidade intelectual, que a luta ideológica continua a ser entre o Bem e o Mal, entre a Razão e o Obscurantismo, e não entre muçulmanos e ocidentais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece-me demasiado simplista reduzir a questao do terrorismo a uma luta entre o Bem e o Mal. Infelizmente a vida nao é Branca ou Preta e a Zona Cinzenta ocupa um espaco cada vez maiore.

Na minha opiniao há imensas variáveis que tem que ser incluidas na equacao que tem como resultado os ataques terroristas: o fundamentalismo é sem dúvida uma delas mas também o crime organizado, a luta de interesses económicos e politicos, as ambicoes pessoais, a corrupcao, e por ai em diante... ou quem é que tu achas que financia os movimentos terroristas? O Chifrudo? Ou que as manifestacoes de fundamentalistas histéricos que nós vemos na televisao sao reunioes espontaneas de gente que partilha a ideologia do mal?