A LIÇÃO DO PAPA


Já muito se falou sobre a conferência de Bento XVI. Correndo o risco de ser enfadonho, gostava de incluir um aspecto que me parece não ter sido realçado. E que está encadeado na discussão anterior sobre “estratégia”.
O Papa dissertou num meio académico numa audiência de teólogos, filósofos e outros universários. Numa academia do Saber. O que é que ele disse, basicamente?
(aproveito para informar que não sou competente para, sequer compreender em toda a sua amplitude a conferência do Papa)
- Os Homens são seres racionais, são seres de Razão, e portanto podem, e devem entenderem-se, a despeito da diferença de culturas e de religiões.
A Dignidade do Homem, a distinção entre o Bem e o Mal, não é mais do que viver segundo essa natureza racional. E esta natureza não é exclusiva do Catolicismo.
O Catolicismo é o herdeiro da cultura grego-romana e não há Fé sem Razão.
Este conflito contra o Ocidente é uma reacção dos que entendem ainda as religiões como sendo anteriores ao pensamento científico. Isto é, a religião afastada da Razão.
“Não agir com o logos é contrário à natureza de Deus”.
Ao fazer uma citação mencionou o Profeta Maomé…
Apesar de, como já disse, não alcançar este nível de discussão (o que vale é que há muitos que também o não compreendem) parece-me uma conferência fantástica. Concordo com ele.
As reacções irracionais - a dar razão ao Papa-, indignação dos ulemas, o vandalismo, chegou a haver mortes – 1 freira na Somália – causou um despertar amargo ao Bispo de Roma.
Estou profundamente convicto que Bento XVI nunca imaginou este tipo de reacções violentas. Mas devia saber o que ía acontecer, dizem uns, outros afirmam que sabia muito bem o que estava a fazer. Há quem entenda que é o inicio de Novas Cruzadas!...
Acho tudo um disparate. O que eu acho é que o Papa cometeu uma imprudência, foi pouco prudente. Só. Mais nada. Toda a sua lição pretendia unir os povos, integrando mais razão na Humanidade. Mas o Papa é também um político.
E um Papa fala com voz muito grossa. É a voz da Cristandade!
E esse é o grande pecado de Bento XVI! O facto de ter citado Maomé, a mandar espalhar a fé pela espada.
Como tenho dito o combate ao terrorismo não pode, por um lado aumentar o ressentimento das massas muçulmanas – que são manipuladas muito facilmente – e por outro deixar resvalar para a guerra das religiões.
Neste caso, infelizmente, além de não ajudar no primeiro ponto, a referência ao Profeta, fez com que o debate passasse por dois intervenientes: o Cristianismo e o Islão. E isso incrementa o perigo de ao falar em Cristianismo versus Islão, se comece a acreditar na guerra de Religiões. Quem atacou em 11 de Setembro não foi o Islão e quem foi atacado não foi o Cristianismo. Uma seita fundamentalista islâmica atacou o Ocidente. E a verdade é que cada vez o Ocidente está mais fraco, em relação a essa seita. E falar nas religiões é o que Bin Laden quer. Que ninguém tenha dúvidas.
E a crença, a Fé é imbatível. Não vamos por aí. Eu lutarei pela liberdade de pensamento, não lutarei por Cristo. Isto não tem a ver com a Fé!
Um muçulmano, não religioso (que os há) não gosta que confundam a sua religião com terrorismo.
Posto isto, pode-se condenar o Papa? Só Deus tem essa prerrogativa. E não é o Papa infalível?...
Não me interessam culpas, o que me interessa é vencer essa barbárie! E sei que não podemos ir pelo caminho da auto-censura. Mas...Não estamos em guerra? O Papa tem que ser um diplomata. João Paulo II foi ecuménico e humanista. Não acredito que Bento XVI queira alterar este rumo.
E desejo, ardentemente, que o Papa dê uma grande Lição na sua visita à Turquia.
Saudinha.

6 comentários:

Rantas disse...

O mais curioso é que Bento XVI, no mesmo discurso, refere também episódios violentos perpretados pela Igreja Católica!

Na minha opinião, o Papa fez um excelente discurso, que se peca por alguma coisa é por "excesso de verdade" - ou seja, não é politicamente correcto.

Enfim, também é engraçado verificar que os detractores do discurso do Papa são também aqueles que mais atacam a febre do "politicamente correcto"! :-)

El Ranys disse...

Como ocidental não religioso, preocupa-me sobretudo o ataque à minha liberdade de espressão.

"shhh, cuidadinho com as palavras, olha que eles estão a ouvir?"...

Mas o que é isto? A prelecção do Papa é boa no seu conteúdo, não ofende nada nem ninguém. A maioria dos muçulmanos compreende isto. Os que não compreendem, que pretendem acicatar ódios e fomentar guerras, esses bem podem bradar. Não vencerão. Apesar da "compreensão" que recebem de muitos ocidentais, como aqui o Alex.

manolo disse...

Pelo facto do Papa "ter voz grossa" é que tem obrigação de dar voz à filosofia defendida pela Igreja Cristã. Será julgado pela História e os crentes precisam de direcção. Numa altura em que o mundo borbulha, o Papa tem que cumprir o seu papel. Calado não é opção. A guerra não é de Religiões, pelo menos isso não passa pela cabeça do ocidental cristão. Quem a declara sempre que possivel são as "seitas fundamentalistas islâmicas" que pululam e não precisam de pretextos fortes pois é o seu modo de vida. Até quando? Só os tais muçulmanos não-religiosos ou os que vêem a Fé ligada à Razão. Este é o cerne: quererão a maioria dos muçulmanos a Razão ou o sonho do regresso ao Califado é mais forte? Voltarei ao assunto.

Alex disse...

Caro El Ranys faz-me o favor de concretizar quando falas da "compreensão" do Alex.
Saúdinha

El Ranys disse...

A compreensão de que falo traduz-se, de forma inequívoca, na tua frase "O que eu acho é que o Papa cometeu uma imprudência".

Consegues dar uma no cravo, outra na feradura: é tudo um disparate mas, para ti, o "Papa cometeu uma imprudência".

Afinal, em que ficamos? O Papa disse algo que, legitimamente, ofendeu o Islão e mobiliza para a guerra de religiões(e, nesse caso, foi imprudente), ou, no uso da sua liberdade, fez uma citação que não pode nem deve ser aproveitada para instilar ainda mais ódio, sendo de condenar quem o fez?

És equívoco nesta matéria, pareces compreender a indignação dos fundamentalistas.

Alex disse...

Quando falaste de compreensão não percibi acerca de quê tenho compreensão.
Se é da pouca prudência do Papa ao citar o bizantino, é verdade que é meu entendimento que foi. Aliás, ele próprio admitiu isso, se tu não aches, ok.
É que o Papa também é um político. E além disso é o chefe do Catolicicismo. Apesar de, como disse, achar que foi uma conferência maravilhosa e concorde totalmente com a visão que o Papa tem.
E isto não é uma no cravo e outra na ferradura.
Saúdinha