«Saudada» a minha chegada pelo Rantas, dos nossos amigos do Revisão da Matéria, num post que intitulou Novas ideias no Merdex, verifico que continua intacta a arrogância esquerdista de se considerar a «boa consciência» do mundo, os fiéis depositários da Verdade.
Começa mal, ao publicar um post noutro blog, não me dando conhecimento através dum comentário no meu e queixando-se da falta de resposta num comentário a outro post do Merdex.
Classifica as ideias que expresso sobre Mário Soares aqui como «originais». Mesmo pondo a palavra entre aspas, finge não conhecer que as ideias sobre a personalidade do visado são partilhadas por uma maioria grande dos portugueses, ou os documentos históricos que relatam o seu papel na descolonização. E se classifico esta de criminosa, é por entender (e muito bem acompanhado) que, mesmo em 1975, teria sido possível fazê-la sem as consequências desastrosas que teve para as populações autóctones e para os portugueses aí residentes. A história recente de Timor, Guiné, Angola ou Moçambique, com toneladas de mortos, fome, guerras, corrupção e milhares de etc. justifica bem o adjectivo que usei, mesmo que com liberdade em relação ao Código Penal.
Como must, a velha costela censória dos seres cheios de si mesmos, que se permitem dividir as leituras entre boas e más, do alto de um qualquer Olimpo moral (cheio de lápis azuis) onde obviamente se encontram. Ainda não perceberam que o pluralismo implica que as ideias não são boas ou más por serem, respectivamente, iguais ou diferentes das nossas. A esquerda no seu melhor. É nestes pequenos pormenores eles se descaiem em relação à sua matriz antidemocrática, como qualquer bom dono da verdade.
E quem não concorda com eles, pertence necessariamente «às franjas mais (sublinhado meu) extremistas», a que, apesar de tudo (sublime magnanimidade), é positivo dar voz.
Isto dito por quem escreve aqui que «a "sociedade civil", quando largada à solta, tende a votar estupidamente». Só é hilariante porque põe à vista o íntimo destes «modernos» pensadores sem eles se aperceberem.
Por não me parecer que o local indicado para continuar uma conversa, que se transformaria a dois, sejam os posts, só lhe darei seguimento, se caso disso, nos comentários.
4 comentários:
Obelix,
As más leituras a que me refiro no post serviam para ilustrar a foto. Só isso. Achei adequado fazer essa ponte. Sem lápis azuis.
Se tu de facto acreditas que em 1975 havia ambiente político para fazer uma descolonização melhor, com os militares a quererem voltar para a metrópole, com o esquerdismo frentista à solta em Portugal, com o mundo todo contra nós e connosco a precisar de apoios em todo o mundo... se de facto acreditas nisso, então és um felizardo, um visionário, alguém que vê o que está escondido da realidade.
A descolonização foi criminosa? Foi.
A guerra colonial foi mais ainda. Quem foi o arqui-criminoso? Quem é que fez durar a ilusão de um Portugal unido, do Minho a Timor, por mais de 10 anos para além do suportável?
Cometes um erro comum, o de considerar que quem condena a descolonização «exemplar» automaticamente defende a situação e os protagonistas anteriores. Não é por aí que eu vou.
Julgo óbvio que atempadamente podíamos ter feito uma descolonização óptima, e que a que era possível em 1975 já seria muito condicionada. O meu ponto é que podia ter sido muito melhor, e se não o foi foi por causa da acção política de algumas pessoas, maxime Álvaro Cunhal e Mário Soares. O próprio programa do MFA - certamente com o dedo de Spínola, que no «Portugal e o Futuro» preconizava uma solução federal - previa a consulta às populações sobre o seu futuro, onde se incluía a opção de continuarem portugueses.
Noto que referes um ambiente político, e não social (este é consequência). Quem é que o criou?
Quem é que armou o MPLA, então quase completamente destruído, depois da acção militar de Costa Gomes, que até não me é particularmente simpático?
Quem é que em Timor tornou incontornável a invasão criminosa da Indonésia?
Quem é que torpedeou a acção do Alto Comissário do novo regime em Angola para o substituír por Rosa Coutinho (late 75), em ordem a facilitar que as coisas se passassem como vieram a passar?
Quem é que destruíu a disciplina, base de qualquer organização militar, ainda assim suficiente para conter uma revolta branca tipo rodesiana em Moçambique? Porque é que já não o era para controlar a situação?
Porque é que só logo a seguir à independência de Angola se dá o 25 de Novembro em Portugal, arredando o PCP do palco maior?
Muito mais argumentos há para sustentar que a descolonização que foi feita não foi a única possível, muito menos a melhor. E há culpados, bem identificados em inúmera documentação publicada por responsáveis da altura, que sentiram a necessidade de justificar perante a História porquê as coisas correram da forma que correram. Muito mais que «um felizardo, um visionário, alguém que vê o que está escondido da realidade», consulto os documentos à disposição pública, e uso as células cerebrais para aquilo para que também foram feitas, processar informação e tirar conclusões, em vez de seguir o caminho fácil de comprar verdades feitas de aceitação dita generalizada, sem preconceitos nem com receio de ser politicamente incorrecto.
Nem sequer sei se a guerra colonial foi criminosa: nunca permitiram às populações pronunciarem-se, e, com a óbvia excepção da Guiné e do norte de Moçambique (aqui também com outras razões que não só a revolta ao poder português), o apoio popular aos movimentos ditos de libertação foi quase nulo. A nossa actuação política e social enquanto colonos é que me parece do piorio.
Quanto às más leituras, a explicação não me convence. Porquê as da imagem são más? (Salazar e a Censura também as classificavam assim).Mas vá lá, concedo que o lápis azul não esteja na tua cabeça. Até porque não seria politicamente correcto...
Um abraço.
O Mário Soares fica na História como um dos Pais da Democracia. É verdade que há, não uma maioria tão grande, mas muita gente que critica, como o Obelix, a sua participação na descolonização. Mas o País, gosta dele. Mesmo com este resultado eleitoral, é minha convicção que Soares ainda é querido (não na política activa) pela larga maioria dos portugueses. Um pouco como diz Miguel Sousa Tavares.
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