Terá Israel o direito de existir?


Desde longo tempo sempre me envolvi com paixão em discussões sobre um tema, de facto polémico: Palestina e Israel. Interesso-me vivamente por esta contenda tão amarga e injusta para os dois lados, cujo final angustiante tenho a esperança que sejam dois Países vizinhos que se respeitem e juntos construam a Paz.

A História do povo judeu é fascinante. É necessário conhecer desde o que vem da Bíblia, O Talmude ou Tora, até à sua diáspora, quando se espalharam, obrigados pelas circunstâncias, mantendo o laço comum e a memória colectiva que sempre os identificaram. Nunca tiveram vida fácil, sendo estranhos em todo o lado e sofrendo arrepiantes injustiças especialmente na Europa. E, estranhamente, tanto que contribuíram para o que de mais nobre se pensou, na história do pensamento europeu. Facilmente se escreve uma lista de personagens ímpares de judeus.

Este povo com uma espécie de ética de ser racional e justo, teve um sonho: o Sionismo nos finais do séc. XIX: Direito a ter um Estado com território dos tempos originais das doze tribos da Judeia, da Galileia e Samaria. E poderia ser noutro local? Seria justo?

A Palestina, zona pertencente desde o Islão aos Califados e sucessivas dinastias, disputada nos tempos dos Cruzados, do Império Otomano até à Guerra onde por acordo “subterrâneo” França e Grã-Bretanha o dividiram em Transjordânia e Síria e os ingleses obtiveram da Sociedade das Nações o mandato de Administração da Palestina. A crescente emigração de judeus especialmente do leste europeu começou a pressionar os palestinos que evidentemente se opunham a um Estado judeu nas terras de seus pais e avós.

A Declaração Balfour em 1912, preconizava a divisão dos territórios em dois Estados independentes Israel e Palestina alertando para se salvaguardar os direitos das populações. Toda a história dos kibbutz “colonização” e construção das aldeias e do país foi epopeia enaltecida e apontada como exemplo por toda a intelectualidade. Mas ainda antes da 2ª Guerra a luta de guerrilha contra os ingleses tanto das organizações judias como árabes liderados pelo Mufti de Jerusálem criaram antagonismos profundos. Durante a guerra e após o final desta a situação tornou-se insustentável: a emigração e especialmente o destino a dar aos sobreviventes, obrigou a Inglaterra a entregar o caso às Nações Unidas, que coincidindo numa série de circunstâncias legitimou (deu Direito) à existência de dois Estados, com fronteiras determinadas.

Sabemos o resto da história; guerra de 1948, onde os israelitas agarraram a oportunidade (de forma preconcebida?) expulsaram das suas aldeias cerca de 1 milhão de palestinianos cujos descendentes continuam hoje a ser refugiados, sucessivas guerras devido ao facto do Mundo Árabe não os considerar com direito a existirem como Estado naqueles territórios. Sucessivas guerras criaram o problema dos territórios ocupados (ilegitimamente) e a indignação, a pobreza, a raiva, o ódio e o terrorismo.

Os acordos de Paz alcançados em Oslo criaram a expectativa de um lado e de outro que só potenciou a desilusão que se lhe seguiu; responsabilidade é repartida mas Arafat surge-me como alguém que levou longe de mais o seu bluff. A 2ª intifada não tem explicação lógica para tanto que estava em jogo. A reacção de Sharon foi inaceitável. O sofrimento imposto aos palestinianos “presos” e sem quaisquer direitos nos territórios ocupados foi uma amarga decepção para mim. A segurança é uma responsabilidade que os governantes têm com os seus cidadãos, mas sem pôr em causa a vida de inocentes, como tem acontecido desde 2000, sem sequer comparar com os actos nem desesperados dos atentados terroristas-suicidas que está para além da compreensão. É verdade que as grandes causas exigem grandes actos mas vejam-se outros exemplos desde Ghandi a Mandela ou Xanana.

Perguntava se era justo. Não, não é justo sermos expoliados das nossas terras e dos nossos antepassados, humilhados, mortos, os nossos filhos crescerem sem futuro. É também de grandes injustiças que se faz a história, às vezes para colmatar outras maiores.
Os problemas estão todos discutidos; a questão já não reside apenas na retirada dos territórios ocupados, no redesenhar as compensações dos colonatos, o crescimento demográfico esmagador dos palestinianos relativamente aos israelitas, a divisão e livre acesso à dupla capital Jerusálem, às indemnizações devidas aos refugiados e a garantias de segurança de ambos os países; para mim a grande questão ainda não resolvida é a aceitação do direito de Israel existir e não encarar isso como algo que têm que expiar.

1 comentário:

Alex disse...

Israel tem direito a existir. E existe de direito e de facto. Também a Palestina tem direito mas não existe, de facto. O novo partido o Kadima (?) parece que vai no bom sentido, pois a grande ideia fundadora é a paz e a existência de um Estado Palestiniano vizinho e... desarmado. Esperemos que sim, pois este problema é a mãe de muitos outros...
Saúdinha