Esquerda nova; as causas que valem a pena


Espero mais da Esquerda. Esta exigência é maior porque as grandes transformações históricas no sentido de igualdade, liberdade, melhores condições de vida, participação e cidadania, justiça, dignidade dos homens, direito a expressar ideias e opiniões diferentes, melhor distribuição da riqueza, etc tiveram raízes na Esquerda.* Lutaram por elas. Normalmente estas alterações do curso da História fizeram-se à custa de revoluções.

O que tenho defendido em anteriores posts, é que é necessária uma ideologia de Esquerda nova, destes tempos de mudança generalizada e de globalização. E esta nova Esquerda, estará representada por Tony Blair, Zapatero, Sócrates, (Ângela Merkel) na Europa (em França é mais difícil), que, tendo ganho eleições democráticas nos seus países têm agora grandes responsabilidades.
A mais importante das quais será definir claramente qual a estratégia global, a que chamei a nova ideologia, e chamar a essa causa a multidão que, ainda órfã da luta ideológica dos últimos 80 anos parece esperar ainda a próxima revolução.

- Uma Esquerda nova não deve apelar à Revolução. Não deve considerar patrões e empresários como inimigos dos trabalhadores e funcionários. Deve pugnar por acabar com privilégios do Estado injustificáveis.
- Deve compreender a mudança e tomar medidas para garantir a sobrevivência de um estado social que assegure a todos os cidadãos o mínimo nos sectores de Educação, Saúde, Reforma, Desemprego, etc.
- Deve assumir que o Estado não deve ser um agente económico, mas cumprir as suas obrigações (a fim de manter o ambiente económico; moeda única, inflação e taxas de juro baixas, deficit controlado) e incentivar o desenvolvimento de iniciativa privada apostando claramente nas áreas de novas tecnologias e de exportação, não sobrecarregando de impostos.
- Na Europa deve lutar por uma União mais política, defendendo um Tratado Constitucional (basicamente aquele que existe) e optar claramente pela entrada da Turquia.

Reconheço que esta lista “simplista” pode também facilmente ser defensável pela Direita, pelo menos nalguns pontos. Mas estas são as causas que vale a pena lutar, pois que a Esquerda nunca foi egoísta e tem que pensar nas próximas gerações. E elas só estarão melhor se houver crescimento, emprego, direitos sociais, etc. E é agora o tempo de tomar as decisões.

*(Confio mais na esquerda, declarando que não considero Estaline nem Mao, por exemplo como identificando a Esquerda. Claro que a corrente que se opôs a estes avanços a considero de Direita, com a ressalva que ideias de Direita também contribuíram e são bastante válidas desde que reconheçam estes valores essencias).

6 comentários:

El Ranys disse...

Defendes, portanto, que a "nova esquerda" (?) adopte a agenda de uma certa direita...
Também não está mal...
Mas eu diria mais que pertences ao centro! Não?

Anónimo disse...

Caro Manolo,

1.As grandes transformações históricas no sentido da igualdade, liberdade, etc…. não tiveram origem nem raízes na esquerda coisa nenhuma! Estes são conceitos que começaram a ser sistematizados por pensadores que estão normalmente associados à criação do liberalismo (essencialmente durante os secs XVIII e XIX). A tua esquerda o que fez foi querer apressar a universalização destes ideais através do Socialismo, enquanto os liberais queriam que esta universalização decorresse de uma forma mais natural.
2.Ambas as correntes tiveram as suas derivas quer no sentido do capitalismo selvagem, quer no sentido do comunismo. Agora o que é engraçado é que tu não identifiques os camaradas Mao e Estaline como a esquerda mas ao mesmo tempo afirmas que a direita se opôs aos avanços destes ideais! Isto é, o comunismo não é de esquerda mas o fascismo é de direita….um bocado falacioso, não?
3.Da maneira como pões as coisas a distinção entre esquerda/direita perde todo o sentido (vais-me desculpar, mas querer considerar a Ângela Merkel de esquerda é um pouco demais!). O que tu fazes é canibalismo político e pões o que tu chamas esquerda a apossar-se de politicas que sempre foram essencialmente de direita! Se o teu ideal de sociedade é esse, então estou com o Ranys…. afinal o que tu és é um social-liberal.
4.Se a luta ideológica acabou (como tu dizes e que eu até posso concordar) então há que reconhecer e admitir que ouve um vencedor, e esse vencedor foi o liberalismo, tanto ao nível político como económico (nas suas formas menos radicais, admito). Este vencedor está de facto representado em líderes como o Blair, que não representa esquerda nenhuma (o ‘New Labour’ não pode ser considerado um partido de esquerda; não me lixem!). Não acho é que seja muito produtivo querer arranjar argumentos para prolongar uma discussão que está terminada, e acho que não faz falta nenhuma uma ‘nova esquerda’ que venha defender aquilo que já é óbvio. Acho mais interessante redireccionar os nossos esforços intelectuais para encontrar as melhores formas de combater às grandes ameaças de hoje: o fundamentalismo islâmico, a pobreza do terceiro mundo e a saúde do nosso planeta.
5.Só para terminar eu sou contra a entrada da Turquia na UE. As razoes... a discutir em próximos posts!

Alex disse...

Esta discussão é eterna. Mas aqui vai o meu bitaite. Hoje, a diferença entre Esquerda e Direita é em pormenores. Não quer dizer que não existam diferenças.
Em relação às grandes transformações históricas, elas foram feitas pela esquerda, evindentemente. Desde sempre que houve quem quisesse manter o estado de coisas, pois evidentemente era do seu interesse, e houve quem quisesse alterar pois sentia as injustiças. Desde os Romanos,com a questão da cidadania, até à luta contra a escravatura e luta pelos direitos das mulheres, sempre houve uma corrente que quer alterar e outra que quer conservar.

A origem dos termos Esquerda e Direira vem da revolução Francesa e não da Revolução Socialista. As ideias da Revolução Francesa são Liberdade, Igualdade Fraternidade.
Com o Marxismo passou a haver a discussão entre este e o Capitalismo, mas essa não é, para mim a questão da Esquerda e da Direita.
Aliás, caro Harpic, as revoluções Liberais são, ao tempo, de Esquerda. Aqui em Portugal, os vintistas (Constituição de 1820) e depois a Magna Carta de D. Pedro, e a guerra com os Miguelistas, se quisermos catalogar de Esquerda e de Direira, é evidente a classificação.
Eu acho que, de facto, a Esquerda Socialista e Marxista foi derrotada (e ainda bem!). Mas pode-se chamar Esquerda a um sistema em que não há liberdades, não há democracia, onde há um Estado totalitário, repressivo... Esta não é a minha ideia de Esquerda. Assim, como os totalitarismos de Direita foram derrotados.
Quero distinguir outra coisa : a economia não é ideológica, não é de esquerda nem de direita. A economia tem a função de criar riqueza e de a distribuir. Naturalmente que isto tem muito que se diga e é óbvio que as politicas económicas tem objectivos politicos. Onde se vai buscar o dinheiro e como se vai gastar é que diferencia uma politica de Esquerda e de Direita.

Parece-me que temos que concordar que hoje a Esquerda aceita convictamente que a melhor forma de criar riqueza é haver um Mercado livre. E a Economia de Mercado não é de Direita.
Reparem na China. Como é que se pode classificar ? De Esquerda ? Tem um sistema politico dito de Esquerda (totalitário) mas a Economia de Mercado. É o exemplo de que o Mercado não tem conotação politica.

Assim, quero chegar finalmente a uma conclusão. Hoje a Esquerda e a Direita, incorporaram valores que não eram seus e as diferenças diminuiram. De facto, Zapatero, Blair, Sócrates são de Esquerda, mas uma Esquerda completamente diferente da chamada socialista. Eu acho que há muito a fazer, não me parece que isto seja o fim da História. É para mim aberrante um mundo onde, segundo um relatório da UNICEF, o planeta produz num ano alimentos suficientes para alimentar 12 vezes a população mundial e ao mesmo tempo morrem de fome crianças de 5 em 5 segundos ...
Hoje os grandes temas são a Imigração, o Ambiente, a Paz, a Igualdade das Mulheres, as Minorias. São nestes temas (e noutros) em que a Esquerda e a Direita tem diferenças, não é na Economia de Mercado.

Finalmente tentei arranjar uma definição e convido os outros bloggers a arranjarem outra.
- Esquerda - Privilegia o colectivo.
- Direita - Privilegia o Individual

Saúdinha

Anónimo disse...

Como tu dizes é uma discussão eterna e provavelmente não muito profícua devido à dificuldade em chegar a alguma conclusão devido às diversas interpretações que se dão aos dois pólos desta dicotomia. Determinar a localização exacta e consensual de um eixo ideológico que separe Esquerda e Direita é muito difícil para mais sem o contextualizar no tempo e no espaço.

No entanto não quero deixar passar o teu post sem comentar alguns pontos em concreto.

1.Dizes que a “economia não é ideológica”. Mas depois também dizes “onde se vai buscar o dinheiro e como se vai gastar é que diferencia uma politica de Esquerda e de Direita”. Posso talvez ser muito terra-a-terra mas para mim buscar o dinheiro e gastar o dinheiro são as duas actividades pilar da economia. Não percebo portanto a tua argumentação para quereres retirar a forma de abordagem da economia desta discussão ideológica. Para mim sempre tive que essa mesma abordagem era um dos factores distintivos entre Esquerda e Direita e que a primeira tem um conceito mais intervencionista e a segunda defende uma posição mais liberal.
2.Dizes que a China é uma Economia de Mercado?! Não acho! Pelo que sei, a China tem uma economia completamente controlada pelo Estado quer através de subsídios a determinados sectores, incentivos à exportação e restrições às importações. Esta não é propriamente a definição de Economia de Mercado!
3.A distinção que propões é normalmente aceite como um dos principais eixos de distinção entre Esquerda e Direita. Também concordo. É precisamente esta distinção que faz com que os governos de Esquerda se sintam mais tentados a intervir para defender o bem colectivo enquanto que os governos mais à Direita têm mais tendência para ser menos intervencionistas e deixar o individuo afirmar-se por si próprio, num sistema mais meritocrático. O equilíbrio está num sistema onde o Estado deve apenas intervir na justa medida que permita que todos no colectivo tenham as mesmas oportunidades de se poder afirmar por si próprios. Se para vocês este ponto de equilíbrio define hoje o que chamam de nova e renovada esquerda, então pronto seja, estamos pois todos de acordo e eu comungo com vocês os novos ideais da Esquerda. Até lhe podemos chamar, sei lá, a “Third Way”!
4.Absolutamente de acordo quanto às tuas conclusões. O desafio hoje é descobrir como é que se podem usar estas novas formas de ideologias para resolver os grandes problemas que referes:
A Imigração deve ser mais/menos controlada
O Estado deve controlar mais/menos o impacto das empresas no Ambiente
É legítimo/crime usar a forca para garantir a Paz
As mulheres devem/não devem ter direito a quotas
Devem/Não devem as Minorias ser respeitadas quando os seus valores põem em causa os nossos próprios valores
A globalização é um primeiro passo/é um problema para enfrentar algumas das questões mais prementes dos países menos desenvolvidos e em vias de desenvolvimento

Qualquer um destes temas dá seguramente discussão mais interessantes do que a disputa abstracta sobre o que são a Esquerda e a Direita.

manolo disse...

O que quis salientar é que tenho esperança que a gente que lutou sempre por causas justas, com convicção e desinteressadamente (é verdade, houve muita gente) através do curso da História tem agora causas importantes para lutar, e não, como vêmos todos os dias em Portugal, a não quererem ver a mudança e contribuindo negativamente para o nosso futuro. A tal "geração orfã" de ideologia, com a atitude de "quanto pior, melhor". Se chamei de nova Esquerda é para a distinguir da velha e caduca. Para mim a Esquerda é mais altruísta.

Alex disse...

Vou continuar com a discussão, porque apesar de tudo julgo que se vai chegando a conclusões. Era melhor estar a conversar fumando um charuto e bebendo uma bagaceira velha mas, pelo menos assim cada um vinca as suas ideias.
Respondendo ao comentário do Harpic :
1 -Certo. Toda a gente sabe que a Esquerda é mais intervencionista e a Direita mais liberal. Mas gostava que concordasses quando eu digo que a Economia não é ideológica. A Economia cria riqueza. Ao se chegar à conclusão de que o melhor meio de criar riqueza é o mercado, deixando a lei da oferta e da procura determinarem os preços, não há ninguém de esquerda que não queira criar riqueza para a poder distribuir. A politica económica é é dar o destino a essa criação de riqueza. E isso tem a ver com a politica fiscal, orçamental, de subsidios, etc. A criação de riqueza não é ideológica, a politica económica é.
2- A China. A China aderiu à economia de mercado. Politicamente continua não democrática mas a Economia abriu. Hoje a China exporta e importa para todo o mundo. É verdade que não é um mercado perfeito. Não há mercados perfeitos.
3- Também defendo um sistema meritocratico.O equilíbrio está num sistema onde o Estado deve apenas intervir na justa medida que permita que todos no colectivo tenham as mesmas oportunidades de se poder afirmar por si próprios.
Exacto. A justa medida é que é dificil de determinar. E é o que diferencia a Esquerda da Direita.
4 - Hei-de postar sobre alguns desses temas, sendo o primeiro sobre as "Mulheres ao poder !"
Saúdinha