Esquerda, Direita e a Mudança

Às vezes falta a perspectiva histórica. O desenvolvimento das civilizações é feito de mudanças por vezes lentas, outras vezes rápidas; e cada vez mais rápidas. É hoje consensual, pelo menos sob o meu ponto de vista os valores da Humanidade: a mulher e o homem têm a mesma dignidade e valor humano, que todos devem ter igualdade de oportunidades, direito a serem tratados com justiça, não serem prejudicados por diferentes opiniões. Todos estes valores são comuns à Esquerda e à Direita. Ambas as visões são necessárias na melhoria e aperfeiçoamento dos sistemas Democráticos.
Em qualquer lugar em que não foi permitida a discussão das diferenças, a crítica e a apresentação de diferentes soluções a sociedade estagnou. O bem colectivo sobrepõe-se ao individual? Até que ponto e a que preço? Devemos conservar os valores dos nossos antepassados? O poder político e o poder económico são antagónicos ou complementares? A vida e a morte são negociáveis? Os direitos e os deveres estão no mesmo patamar? A solidariedade com os mais desprotegidos e fracos é obrigatória? Os Turcos devem ser membros da União Europeia? A Revolução é legitima? O terrorismo é consequência da revolta e portanto irreversível?
Cidadãos de direita e de esquerda podem coincidir ou discordar em qualquer destes pontos dependendo das circunstâncias. Só sob uma perspectiva histórica e de memória se pode definir hoje alguém como de esquerda ou de direita. Mas existe certamente uma esquerda “esquerdista” que não consegue substituir a utopia que foram as grandes revoluções na União Soviética e na China. Atingido o apogeu do falhanço, sem argumentos, após anos e anos de crença, hoje voltam-se para uma atitude sobretudo de “quanto pior, melhor” e procuram a revolução. Serão de esquerda? Também de direita continua a haver quem defenda a superioridade da raça, a diferença dada pelo nascimento e resolva tudo pela força bruta contra o mais fraco. Estas esquerdas e direitas não respeitam as diferenças e se atingissem o poder teríamos as diversas ditaduras. Com optimismo digo que a maioria está no tronco comum, respeitando as minorias, as diferentes opiniões e sabendo admitir o erro. O Mundo está a sofrer uma mudança que nos vai afectar a todos. Para dois terços do planeta a sobrevivência atroz tem sido o modo de vida. Para o restante (sobretudo o “chamado Ocidente”) tem sido um mar de rosas... A diferença abissal de tão injusta dói.Será que a mudança vai atenuar esta gritante má distribuição? Obviamente que sim. Porque os homens e mulheres chineses, indianos, brasileiros, etc assim o querem e para isso estão dispostos a sofrer agora para as futuras gerações colherem. Os “ocidentais” vão perder o seu lugar no mundo? Não sei. Mas dentro dos nossos valores temos que nos preparar para a mudança. E a luta agora é essa: não entre esquerda e direita e sim entre os que querem enfrentar a mudança e aqueles que a negam e só admitem conservar aquilo que têm.

5 comentários:

Rantas disse...

E curioso é também ver as "esquerdas" e as "direitas" de uns países a terem visões perfeitamente antagónicas relativamente às "esquerdas" e às "direitas" de outros países

Alex disse...

Parece-me que hoje a grande divisão politica é a dos que compreendem a necessidade da mudança e aqueles que não percebem isso. (v. artigo Miguel Sousa Tavares, Causa de morte : Direitos adquiridos).
Mas a esquerda e a direita ainda fazem sentido.
Mas faço uma distinção entre a Politica e a Economia(evidentemente que a politica económica serve a Politica).
A queda do muro de Berlim foi a consequência do fracasso da chamada Economia de Estado, e assim, hoje, a Economia de Mercado é consensual. E hoje, o tal Centrão (PS e PSD) não defendem coisas diferentes em termos económicos. Aliás toda a Europa, com as suas nuances defende as mesmas reformas. A esquerda e a direita diferenciam-se mais, não em questões económicas, mas em relação à protecção social, à segurança, ao rendimento minimo, etc.
E a verdade é que as mulheres apesar de terem os mesmos direitos (na nossa sociedade)ainda são discriminadas, o acesso à Justiça não é igualitário, não existe uma igualdade de oportunidades suficiente.Em resumo, nas Sociedades Ocidentais o consenso é cada vez maior (embora os partidos não quererem dar essa ideia), ainda há um caminho a percorrer. E julgo que não há um partido de Direita em Portugal.
Preferia ter uma Constituição assente em várias grandes valores e não com o detalhe que a nossa tem.
Saúdinha

Anónimo disse...

No outro dia li qualquer coisa de alguem que achava que o nosso actual nível civilizacional nao é mais financiável.

O Mundo está a viver uma alteracao profunda e as dicotomias historicas que até agora dominaram as teorias economicas e politicas e as discussoes de café (como esquerda/direita, esatado/mercado, etc..)sao menos importantes tal é a convergencia e mistura entre elas.

Com o queda do bloco soviético o mundo ficou unipolar o que, por definicao, nao faz sentido e que nao vai durar muito tempo: candidatos para o outro polo sao varios mas o que se está a melhor posicionar é o fundamentalismo e o extremismo. Assim novas dicotomias vao aparecer que reflectirao melhor as diferencas entre os novos polos da ordem Mundial.

Alex disse...

Em relação ao actual nível civilizacional não ser mais financiável é o que eu digo no post "Fim do ciclo das Democracias Ocidentais" caso não façamos as mudanças necessárias.
Mas faço este comentário para partilhar uma citação (não sei se leram) das cartas de António Lobo Antunes à mulher quando estava mobilizado em Angola :
"Ninda, 15/5/71
Meu amor querido
(...)Começo a compreender que não se pode viver sem uma consciência politica da vida: a minha estadia aqui tem-me aberto os olhos para muita coisa que se não pode dizer por carta. Isto é terrível - e trágico. Todos os dias me comovo e me indigno com o que vejo e com o que sei e estou sinceramente disposto a sacrificar a minha comodidade - e algo mais, se for necessário - pelo que considero importante e justo. O meu instinto conservador e comodista tem evoluído muito, e o ponteiro desloca-se, dia a dia, para a esquerda: não posso continuar a viver como o tenho feito até aqui. (...)

Anónimo disse...

Quando o ponteiro se desloca para a esquerda quer dizer que estamos a abrandar...até mesmo parar!