Na sequência ali do post do Manolo sobre a Europa (entre outras coisas) comentei que não acredito numa Europa feita à margem dos seus cidadãos. E não acredito!
No mês passado participei num workshop em que representantes de quase todos os países europeus debateram o futuro da aviação civil na Europa. Durante uma semana fizeram-se as habituais análises de riscos e oportunidades dos vários sectores da indústria e tentou-se chegar a conclusões sobre o impacto que uma Europa mais globalizada poderá e deverá ter nesta importante indústria. No fim da semana (no “wrap up”!) o director do workshop fez questão de frisar que nas várias análises que se fizeram foi recorrentemente referida como oportunidade a colaboração entre os vários países; e nunca o facto de o céu se estender indiscriminadamente por vários países foi referido como uma ameaça ou risco. A pergunta que se impôs foi: porque não acontecem então os projectos transeuropeus mais facilmente? E a resposta foi unânime por toda a audiência: por questões puramente politicas!
Estou convicto de que existe, e se vai reforçando de dia para dia, um espírito Europeu. Os cidadãos dos estados Europeus têm consciência de um sentimento de pertença a uma certa unidade onde são partilhados muitos valores. Este sentimento tem que ser explorado e alimentado para o fortalecer. Algumas das vantagens práticas da EU são evidentes no dia-a-dia (o euro, as fronteiras). A construção da Europa deve ser feita de baixo para cima, através do aproveitamento dos vários exemplos que vão acontecendo aqui e ali, e não de cima para baixo, através dos jogos políticos dos bastidores.
É claro que não podemos exagerar. Não se podem esperar mais afinidades do que aquelas que existem naturalmente. Os diversos povos europeus estarão sempre afastados por enormes diferenças culturais (eu, por exemplo, depois de ter sido algumas vezes surpreendido, lá tive que explicar a alguns colegas meus (de diversas nacionalidades) que em Portugal os beijos entre homens estão circunscritos ao domínio dos laços familiares, e que de futuro eles se deveriam abster de, por mais festivas que sejam as ocasiões, virem todos lampeiros prontos para me pespegar com duas grandes beijocas). Esta diversidade tem que ser respeitada e qualquer tentativa de a subestimar deitará por terra qualquer projecto de união.
Eu sou um grande defensor do conceito de referendo em geral e neste caso em particular. Acho que é um instrumento importante para ouvir a opinião das pessoas e para forçar ao debate. No caso do tratado acho que seria importante referendar e obrigar a faze-lo de uma forma generalizada e simultânea em todos os países implicados. Teriam que se por cuidados especiais na pergunta a fazer (referendar os artigos do tratado seria certamente contra-produtivo) mas alguma coisa deveria ser. As consequências depois se veriam!
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