"Há a concepção assente de que a sociedade ocidental, e em especial a europeia, deve a sua existência à civilização romana e ao cristianismo. Quase todos os historiadores e estudiosos das sociedades e culturas concordam neste ponto. Porém, é uma concepção tão duvidosa quanto falseadora. Afirmamos primeiro que a civilização romana em nada contribuiu para o desenvolvimento de novas ideias e de novas tecnologias. Tudo aquilo que os gregos haviam inventado, descoberto, criado e recolhido entre os séculos VI e IV a. C. foi imitado e aproveitado pelos romanos sem o mínimo de acrescento ou criatividade. Sendo este povo profundamente conservador, fixou-se nos valores da terra, da pátria e da família e os seus horizontes ficaram limitados. Deu-se uma involução desde o período áureo grego até ao Império de Roma. As mentalidades abespinharam-se, as técnicas (de construção, metalurgia, navegação e defesa) e as artes permaneceram sem alterações de fôlego durante sete séculos. Nada mais se criou. Quando muito, permaneceu-se.
O Cristianismo, com a sua moralidade rígida e o seu culto monoteísta, impediu o desenvolvimento das ideias e consequentemente levou à estrangulação da liberdade de escolha. Deixaram de existir opções: havia apenas um deus a adorar, um senhor a quem servir: a obediência ou o inferno. Os horizontes fecharam-se ainda mais e a obrigação de adorar um deus único, absoluto e vingador foi peremptória. O que não o fizesse estava de fora: ou aceitava, ou morria.
Esta mentalidade perdurou pela Idade Média. Todo aquele que, por arte e engenho, se esforçava por dar o seu contributo para o melhoramento da vida, era tomado como bruxo e herético. A fogueira, o exorcismo contra o demónio da curiosidade. A moralidade rígida, apenas para os "leigos", aliada à visão curta do mundo, ao fanatismo ardoroso e a ideia doentia de mundo cristão levaram a uma paragem que se saldou em mil e quinhentos anos de atraso mental e tecnológico.
Só com o Renascimento italiano e o início da expansão marítima se fez uma ligação com o antigo mundo maravilhoso dos gregos. As suas ideias, artes e técnicas eram discutidas e postas em prática pelo homem ocidental. O centro do mundo deixa de ser Deus para se tornar o próprio Homem. A criatividade regressa: descobre-se a imprensa, a pólvora, o papel (inventados pelos chineses), modernizam-se técnicas de navegação (adaptadas dos árabes). Cada homem começa a ter a liberdade de escolher o deus que lhe convém, ou pelo menos de lhe prestar culto, não segundo os cânones impostos por uma Igreja cada vez mais decadente, mas segundo os interesses e a predisposição interior. Liberalizam-se as crenças, afrouxam-se os costumes.
Todavia, novo revés sofre a civilização com a Contra Reforma, as perseguições da Inquisição e o absolutismo real. Foram mais duzentos e cinquenta anos de terror e repressão. Só com o Iluminismo e com a Revolução Francesa se extirparão quase em definitivo as tendências reaccionárias duma civilização que teimava em caminhar para o futuro. Depois, foi uma questão de minutos: a máquina a vapor, a electricidade, as ondas rádio, o automóvel, o avião, a penicilina, os micro-organismos, a genética, a informática e a astronáutica.
Estou convencido de que teríamos tudo isto por volta do século V depois de Cristo, se a civilização romana o não tivesse impedido e se Cristo não tivesse nascido ou pelo menos as suas palavras não tivessem criado efeitos tão radicais. Na verdade, desde o século IV a.C. até ao século XV d.C., quase não houve evolução, não só a nível científico, mas também nas ideias. Tiremos-lhe esses séculos que as tendências actuais teimam em não chamar de "trevas" e eis o século XX e até o XXI no século V, com o homem a ir à lua e por aí adiante.
Os gregos não tinham já a concepção de que a terra era redonda, a matéria formada por átomos? Não inventaram a máquina a vapor e formularam as leis da física e da lógica? Sem esquecer a medicina, a zoologia, a botânica, as técnicas de construção adaptadas de povos orientais. Tudo isto se perdera em dois mil anos de civilização "ocidental".
Algo de positivo se ressalva: fora adiado o atentado transformador e destruidor do homem perante a natureza. Porque a cultura e a civilização é a guerra do ser humano contra o ambiente que lhe deu vida e lha tira."
O Cristianismo, com a sua moralidade rígida e o seu culto monoteísta, impediu o desenvolvimento das ideias e consequentemente levou à estrangulação da liberdade de escolha. Deixaram de existir opções: havia apenas um deus a adorar, um senhor a quem servir: a obediência ou o inferno. Os horizontes fecharam-se ainda mais e a obrigação de adorar um deus único, absoluto e vingador foi peremptória. O que não o fizesse estava de fora: ou aceitava, ou morria.
Esta mentalidade perdurou pela Idade Média. Todo aquele que, por arte e engenho, se esforçava por dar o seu contributo para o melhoramento da vida, era tomado como bruxo e herético. A fogueira, o exorcismo contra o demónio da curiosidade. A moralidade rígida, apenas para os "leigos", aliada à visão curta do mundo, ao fanatismo ardoroso e a ideia doentia de mundo cristão levaram a uma paragem que se saldou em mil e quinhentos anos de atraso mental e tecnológico.
Só com o Renascimento italiano e o início da expansão marítima se fez uma ligação com o antigo mundo maravilhoso dos gregos. As suas ideias, artes e técnicas eram discutidas e postas em prática pelo homem ocidental. O centro do mundo deixa de ser Deus para se tornar o próprio Homem. A criatividade regressa: descobre-se a imprensa, a pólvora, o papel (inventados pelos chineses), modernizam-se técnicas de navegação (adaptadas dos árabes). Cada homem começa a ter a liberdade de escolher o deus que lhe convém, ou pelo menos de lhe prestar culto, não segundo os cânones impostos por uma Igreja cada vez mais decadente, mas segundo os interesses e a predisposição interior. Liberalizam-se as crenças, afrouxam-se os costumes.
Todavia, novo revés sofre a civilização com a Contra Reforma, as perseguições da Inquisição e o absolutismo real. Foram mais duzentos e cinquenta anos de terror e repressão. Só com o Iluminismo e com a Revolução Francesa se extirparão quase em definitivo as tendências reaccionárias duma civilização que teimava em caminhar para o futuro. Depois, foi uma questão de minutos: a máquina a vapor, a electricidade, as ondas rádio, o automóvel, o avião, a penicilina, os micro-organismos, a genética, a informática e a astronáutica.
Estou convencido de que teríamos tudo isto por volta do século V depois de Cristo, se a civilização romana o não tivesse impedido e se Cristo não tivesse nascido ou pelo menos as suas palavras não tivessem criado efeitos tão radicais. Na verdade, desde o século IV a.C. até ao século XV d.C., quase não houve evolução, não só a nível científico, mas também nas ideias. Tiremos-lhe esses séculos que as tendências actuais teimam em não chamar de "trevas" e eis o século XX e até o XXI no século V, com o homem a ir à lua e por aí adiante.
Os gregos não tinham já a concepção de que a terra era redonda, a matéria formada por átomos? Não inventaram a máquina a vapor e formularam as leis da física e da lógica? Sem esquecer a medicina, a zoologia, a botânica, as técnicas de construção adaptadas de povos orientais. Tudo isto se perdera em dois mil anos de civilização "ocidental".
Algo de positivo se ressalva: fora adiado o atentado transformador e destruidor do homem perante a natureza. Porque a cultura e a civilização é a guerra do ser humano contra o ambiente que lhe deu vida e lha tira."
4 comentários:
Este texto é muito interessante até porque vai contra o establishment. A verdade é que o grande salto da civilização europeia foi quando o conhecimento e a ciência, a tecnologia e também a discussão de ideias e opiniões se tornaram valores fundamentais. Para chegar ao nível tão avançado relativamente a todas as outras civilizações (a partir do séc XV até ao séc XX) tivemos que passar por esta longa "idade das trevas". Às vezes, vejo que outros ainda estão nessa fase, tão bem descrita por Jose Leon Machado, que nem sei quem é.
É uma ideia engraçada, a deste Jose. Foi pena não ter falado também do drama que se abateu sobre a Atlântida, que impediu que essa suprema civilização (?) descobrisse o caminho marítimo para a India, o Brasil e a América do Norte antes de Cristo. Ou, sei lá eu! o traque que um qualquer antepassado de Montezuma deitou, que afugentou os extra-terrestres que o aim ajudar, perdendo-se assim séculos ou milénios de conhecimentos para a Humanidade!
A ficção histórica é sempre uma coisa tão criativa, tão solta, tão gira, sem qualquer hipótese de ser invalidada pelos factos, que permite os maiores dislates.
Afirmar que a civilização romana não desenvolveu novas tecnologias é tão - não sei, desinformado? - que resta pouco que dizer. Uma afirmação tão espúria como a do traque, basicamente.
Acredito que, para um estudioso de ideias (filósofo?), a civilização grega seja de facot bastante mais interessante que a romana.
Pode considerar-se que o apogeu da civilização grega (enfim, ateniense...) foi o século V. O século de Péricles. O que aconteceu a tão assombrosa civilização? Suicidou-se! A Guerra do Peloponeso não passou de um suicídio colectivo.
E o que era a Grécia, afinal? Uma mão-cheia de cidades-estado, guerreando-se entre si até à derrocada final. É verdade que produziram brilhantes pensamentos, isso é indesmentível. É verdade que Tales de Mileto adivinhou os átomos. Mas também é verdade que quando os Romanos chegaram à Grécia, a chamada Grécia Clássica já não existia.
Derrotada por dentro, por não se conseguir entender nem sequer na defesa básica do seu território, a Macedónia (bárbara) já tinha acabado com ela.
A cultura grega espalhou-se à conta de Alexandre, um bárbaro macedónio. Com o Egipto Ptolemaico, o Império Selêucida e a "Magna Grécia" (a Sicília), a nossa Grécia era apenas mais uma área helenizada, uma provincia do império macedónico.
Não foram os Romanos a consolidar as ideias gregas? Não terão acrescentado ou criado nada? Bolas, terão pelo menos criado uma ideia perfeitamente estranha para os gregos mas absolutamente essencial para uma civilização: a administração, a legislação, que mantivesse um império! Os gregos mal conseguiam conciliar uma aliança entre duas cidades vizinhas, os romanos criaram um império gigantesco, multi-continental, que se manteve mais de mil anos! Nada mau, para um povo "profundamente conservador", para o qual os "horizontes ficaram limitados".
Já quanto à questão do Cristianismo: É obviamente discutível apresentar a questão dessa forma, até porque quem guardou os brilhantes pensamentos dos clássicos (gregos e romanos) foram os cristãos, ou não?
A Idade das Trevas surgiu não por causa dos Romanos, mas por falta deles (a derrocada do império do Ocidente é que abriu as portas aos bárbaros, não terá sido? E não foram os Francos, os Lombardos, os Visigodos, os Alamanos, os Vândalos, quem provocou as trevas?).
Pode analisar-se se a ética cristã não terá dado uma ajuda a minar os velhos principios romanos. Enfim, pode ter contribuído, mas não terá sido a única causa. O gentil povo dos Hunos terá tido talvez uma contribuição maior, ao entalar os outors povos e empurrá-los para cima do Império.
Em suma - não concordo minimamente com este texto. Comparar os Gregos com os Romanos nestes termos é redutor e é deixar de lado algumas questões essenciais.
De facto, analisar a Historia desta forma nao é sério!
Esta é a famosa teoria do 'se a minha avo tivesse rodas era um camiao'!
A Historia nao pode ser analisada nas suas partes para depois inferir conclusoes para o seu todo.
Minimizar o papel do que quer que seja na evolucao da Historia é um erro grosseiro. Muito mais grosseiro se torna quando se trata da civilizacao Ocidental e do papel do Cristianismo (que, no fundo no fundo, é o que esate senhor pretende fazer).
José Leon Machado apresenta um texto medíocre e sem consistência, baseado numa interpretação muito pouco credível da história...
Clara Saraiva
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