Revolução dos Cravos: melhor era difícil


Após 35 anos da Revolução dos Cravos, quero aqui afirmar que o 25 de Abril atingiu todos os grandes objectivos. Aliás, melhor era difícil. O golpe militar, cujas motivações iniciais eram sobretudo relacionadas com interesses corporativos e de de oposição à continuação da guerra interminável no antigo Ultramar, transformou-se numa verdadeira revolução, logo no Primeiro de Maio, onde o Povo a fez sua, e afirmou a plenos pulmões a Liberdade. O processo iniciado, contou com a participação activa e empenhada, viveram-se porventura tempos irrepetíveis de entrega e vontade de transformar o País; todos que viveram essa alegria de contribuir generosamente para a construção de um futuro de Portugal, diferente do regime salazarento, isolado do mundo, onde se proibia o pensamento e se prendiam cidadãos por pensarem diferente, um País de analfabetos, sem direito à Saúde, sem apoios social nem infra-estruturas capazes. O 25 de Abril trouxe um ambiente de genuína liberdade e esperança.

O tempo era o auge da guerra fria. As posições radicalizaram-se e o espírito revolucionário extremou posições. Lembram-se das canções de intervenção, onde “a burguesia, quer travar a Revolução, trazendo a social-democracia”? A ingenuidade andava a par da maior experiência do Partido Comunista que sentiu ter as condições para repetir a revolução de Lenine. Muitos dos nossos aliados ocidentais deram Portugal como perdido para o bloco soviético. Após meses de indefinição realizaram-se as primeiras eleições livres para a Constituinte. O Povo português surpreendia, e a legitimidade dos votos começava a vencer a legitimidade revolucionária. A aprendizagem da Democracia foi intensiva. O perigo de uma guerra civil foi eminente. Tudo isso faz parte da História. A conclusão que aqui me interessa, é que somos hoje uma Democracia pluripartidária, do tipo que existe na Europa ocidental. Acabou a guerra colonial (tarde e mal, com responsabilidade total para o antigo regime), e Portugal é hoje membro de pleno direito da União Europeia. A Educação, a Saúde, a Segurança Social, que hoje usufruímos não tem nada a ver com o que existia antes do 25 de Abril.

Ouço muitos comentários que referem que “não se cumpriu Abril” ou que “o espírito da Revolução dos Cravos foi adulterado”, ou seja, que o 25 de Abril não teve êxito, ou, nas entrelinhas, que faz falta uma nova revolução. Discordo completamente. A Revolução foi o Povo que a conduziu, contra quem quis dirigir o País para uma ditadura do proletariado ou democracia popular que até dispensava eleições! Recordando hoje a queda do muro de Berlim, e a hecatombe das ideologias marxistas, resta-me agradecer à sabedoria do Povo Português não ter escolhido esse caminho que seria trágico. Aliás, esta revolução de Ditadura para Democracia (evitando outros tipos de tirania) foi, e é, um case-study de todos os politólogos e um exemplo para a queda de muitas outras ditaduras e que permite hoje que a Liberdade chegue a muitos milhões de pessoas.

Claro que não vivemos num paraíso de mar de rosas. Foi isso que o 25 de Abril prometeu? Não me parece. O facto é que temos os meios para fazermos do nosso país aquilo que, como Povo, quisermos e soubermos. Como diz o Alex, e eu concordo, a nossa Democracia ainda é muito jovem e ainda tem muito a aprender. As próximas gerações terão a palavra.